quinta-feira, dezembro 11, 2014

Produção independente pode ser inovadora, utilizar tecnologia, mas é essencial ser bem organizada e valorizar as pessoas




Por Alê Barreto
alebarreto@gmail.com


Tem crescido alguns discursos louvando a inovação e a tecnologia. Não é de hoje. Estude a história e você irá perceber que estes discursos existem desde o início da Revolução Industrial. Que fique claro que não sou contra a inovação e a tecnologia. Estou ressaltando o que Cazuza já dizia em uma de suas canções: "eu vejo um museu de grandes novidades, o tempo não pára".

Agora, de uns anos para cá, tem ganhado muita força também o discurso dos "fazedores". E aí se louva a capacidade das pessoas jovens "fazerem", "realizarem", como se em outras épocas não fossem os jovens as molas propulsoras das mudanças. 
Acredito que a "moda" no Brasil se deva ao conceito difundido no livro "Makers" do Chris Anderson, que já está na minha lista de próximas leituras.

Mas como sabemos, há no Brasil um hábito de "adotar" conceitos de outros países e achar que aqui se aplicam da mesma forma, instantaneamente. E é um pouco sobre isso que vou falar agora: a repetição do discurso da capacidade de realizar, sem incluir nele a importância de "como se realizar". Para mim, realizar é importante, tão importante quanto "como se realizar".

Não sei como é em sua cidade, mas aqui no Rio de Janeiro, onde há excesso de mão de obra disponível para trabalhar em qualquer coisa, em qualquer condição e por qualquer salário, a cultura da "realização", do "aprender fazendo", do "errando é que se aprende" serve de princípio para justificar falta de organização e péssima qualidade nos serviços. Com exército de gente disponível, dá para ficar testando o tempo todo, trocando pessoas o tempo todo e ir ficando com as pessoas que topam o Big Brother que é trabalhar nestas condições, seguindo fielmente aquela regra do capitalismo: "manda quem pode, obedece quem precisa".

E muita gente não vê isso como problema. Trabalhei com gente assim. Gente que deixa tudo para última hora, gente que combina e descombina o tempo todo, gente que adora cobrar organização dos outros, mas trabalha da forma mais caótica possível. Pessoas que dizem que "o método", "o como", dos projetos, é "ir ajustando, é ir aprendendo", mas que não aprendem e vivem sendo improdutivos. Fogem de avaliação de projetos. Quando não podem fugir, fazem reuniões chatíssimas onde tornam "invisíveis" os problemas e monitoram se é necessário "trocar alguém" para que a verdade de como as coisas realmente acontecem não venha à tona (quem reclama para estes "fazedores", já é visto como alguém que "não tem perfil..."). Em resumo, após muito estresse, no final, sobra uma equipe com nervos à flor da pele e o "fazedor" realizado que conseguiu atingir seu objetivo. Como a maioria da equipe que trabalhou com o "maker" são "freelancers", são dispensados. Ficam os "fazedores", que passam a divulgar o projeto como "sua realização", posam para fotos no Jornal O Globo como "coordenadores de projeto" ou "empreendedores" e assim vão fazendo de projeto em projeto.

Antes de louvarmos novos (velhos) discursos, acho importante pensar que produção independente pode ser inovadora, utilizar tecnologia, mas é essencial ser bem organizada e valorizar as pessoas.

Toda essa reflexão surgiu após assistir o ótimo vídeo da Pagtel, empresa brasileira de pagamentos móveis, divulgado no blog Brainstorm9, no qual pessoas consideradas expoentes da cultura maker falam de seus projetos. Um deles eu conheço, de longa data, o Pedro Markun, de encontros no Festival Internacional do Software Livre em Porto Alegre. Falam também Gabriela Augustini, especialista em inovação digital, Felipe Matos, criador do programa Startup Brasil, Bruno Tozzini, criador do DON, o primeiro wearable brasileiro, Martin Restrepo, fundador da Editacuja e Gregório Martin Jr, co-fundador da Fábrica de Aplicativos.





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Alexandre Barreto, mais conhecido como “Alê Barreto”, criador do conceito, blog, marca e do programa formativo "Produtor Cultural Independente", possui duas características que marcam seu perfil. A primeira é que tornou-se um profissional multifuncional. Desafiando o paradigma de que uma carreira precisa obrigatoriamente ser focada, acredita na diversidade. É administrador de empresas, gestor cultural, gestor de pessoas, gerente de projetos, empresário artístico, produtor executivo, consultor, criador de conteúdo, professor e palestrante, entre outras coisas. 
Concluiu o curso MBA em Gestão Cultural na Universidade Cândido Mendes (RJ) e está finalizando sua monografia sobre carreira artística com a orientação da consultora Eliane Costa.

Atualmente é um dos gestores do Grupo Nós do Morro no Rio de Janeiro, associação cultural sem fins lucrativos cuja missão é oferecer acesso à arte no Vidigal.

A segunda característica é que adora novos desafios.

+55 21 97627 0690  alebarreto@gmail.com

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