quarta-feira, abril 30, 2014

Onde: escolher com critério o espaço contribui para o sucesso do show




Por Alê Barreto
alebarreto@gmail.com


No início de abril, falei rapidamente com minha amiga Maria Braga, empresária com quem já trabalhei no lançamento do Cd "Cara" de Cláudio Lins (gravadora Biscoito Fino) e no show dos 30 anos de carreira no Nei Lisboa , com patrocínio Petrobras Cultural, lá no Rio de Janeiro. Ela me disse que dia 30 de abril que o Jards Macalé estaria em Porto Alegre gravando seu primeiro DVD. Cheguei em Porto Alegre e, como bom brasileiro, deixei para a última hora. Ontem, quando fui comprar, os ingressos estavam esgotados.

Fiquei muito feliz com a notícia e mandei um e-mail para ela dando os parabéns, pois a melhor notícia que um produtor pode ter é que os ingressos estão esgotados. Significa que se terá casa cheia.

Desde que fiquei sabendo que o show era em Porto Alegre, fiquei pensando questões que abordo no capítulo 4 "Onde" do meu livro "Aprenda a Organizar um Show". Começo este capítulo falando que "o local tem que ter a cara do público do seu show". Este caso do show do Jards Macalé é muito interessante para pensarmos sobre isso.

Se você for ao Theatro São Pedro, a primeira vista, poderá pensar que ele é um local essencialmente clássico. Mas não é. O Theatro São Pedro, inaugurado em 1858, é um espaço aberto a diferentes expressões artísticas, linguagens e públicos. Um espaço em que muitos artistas do Rio Grande do Sul e de todo Brasil já se apresentaram.

O Theatro São Pedro já é uma referência em termos de qualidade da programação. E este é um ponto que nos faz entender porque ele tem a cara do público do Jards Macalé. O público deste artista prima por qualidade. Muitos universitários são fãs do compositor.

Para quem não sabe, Jards Macalé está celebrando 50 anos de carreira (atenção quem tem acompanhado eu falar em carreira artística, não é todo dia que alguém completa 50 anos de carreira artística no Brasil). 

Para quem não o conhece (geralmente as gerações mais novas), reproduzo aqui um pequeno trecho do release dele.


[início da citação]

"Jards acompanhou Maria Bethânia quando esta substituiu Nara Leão no espetáculo Opinião. Tornou-se depois diretor musical dos shows da abelha-rainha, ainda nos anos 60, e aí conheceu os baianos Gal Costa, Gilberto Gil e Caetano Veloso. Na fase pós-tropicalista, fez com Capinan a música Gothan City e a defendeu no IV Festival Internacional da Canção (1969) – acompanhado da banda Os Brazões. Fez canções para Gal Costa, Nara Leão e Elizeth Cardoso na virada da década de 1970, notadamente o clássico Vapor Barato (com Waly Salomão) e, contratado pela RGE, gravou seu primeiro disco solo – Só Morto um compacto duplo com 4 faixas, com acompanhamento da banda Soma – lenda do rock setentista nacional. 

Nos anos 70/80 tornou-se parceiro de Moreira da Silva no samba de breque Tira os Óculos e Recolhe o Homem. Com Moreira fez vários shows e projetos e por ele foi eleito seu herdeiro legítimo. 

Com o passar das décadas, Macalé reafirmou mais e mais sua importância como músico, compositor e intérprete, além de produtor, orquestrador e ator. Hoje seus discos são reeditados remasterizados, como seu primeiro LP de 1972 Jards Macalé, relançado em 2012, o que motivou shows com os músicos que gravaram no original da época: Lanny Gordin (guitarra) e Tuti Moreno (bateria). Outro exemplo é o LP Banquete dos Mendigos, álbum duplo idealizado e produzido por ele. Gravado ao vivo, em 1973 no Museu de Arte Moderna do RJ, para comemorar o 25º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o disco foi censurado e só saiu anos mais tarde. Entre os vários artistas que participaram nomes como Paulinho da Viola, Jorge Mautner, Edu Lobo, Chico Buarque, Raul Seixas, Milton Nascimento, Dorival Caymmi e Gal Costa, além do próprio Macalé, entre outros".

[fim da citação]


Para quem se interessar, existe também o documentário Jards Macalé: um morcego na porta principal.

Podemos ainda analisar três questões muito interessantes na escolha do espaço para gravação do DVD ao vivo do Jards Macalé.


Em qual cidade gravar? Muitas pessoas pensam que tem mais valor tocar nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Depende. Não é a primeira vez que o DVD de artistas residentes em São Paulo ou Rio são gravados no Rio Grande do Sul. Quando eu morava aqui lembro da gravação do DVD do Nando Reis, entre outros. Se a cidade de Porto Alegre é escolhida para projetos deste porte, é porque esta história de que as coisas só acontecem no Rio e SP vem mudando.


Adequação do espaço para receber o público. Muitas vezes um artista possui um público segmentado, como é o caso do Jards Macalé. Claro que pessoas de todos os tipos, idades, etc escutam e/ou podem escutar a música dele. Mas sem dúvida, sua obra artística deve ser mais apreciada pelas pessoas que curtem a música brasileira dos anos 60/70/80/90 e claro fiéis fãs que o acompanham ao longo dos anos. A escolha de um teatro é extremamente adequada, pois é um público que em sua maioria presta atenção no espetáculo musical e se sentirá mais confortável em um teatro.


Infraestrutura. O Theatro São Pedro possui uma estrutura de serviços nota dez, que pode ser conferida diretamente no site. Item importante para receber uma circulação de shows e gravações de DVD.


A empresária Maria Braga está de parabéns pela escolha do Theatro São Pedro. O Theatro São Pedro está de parabéns por acolher em sua programação este artista que é uma aula de cultura brasilera. E o público do Rio Grande do Sul está de parabéns por ter esgotado os ingressos do show, fato que demonstra que conhecemos a importância da obra do Jards Macalé, assunto que nem sempre ocorre Brasil a fora e que nos remete a necessidade de ampliação do ensino de música nas escolas. Mas isso já é outra conversa.

Leia também a matéria 

Com convidados especiais, Jards Macalé grava DVD em Porto Alegre de Daniel Feix,

publicada hoje no Caderno ZH do Jornal Zero Hora, em Porto Alegre.


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Alexandre Barreto, mais conhecido como “Alê Barreto”, é um profissional multifuncional. Administrador de empresas, gestor de pessoas, gerente de projetos, produtor executivo, consultor, criador de conteúdo, professor e palestrante. 
Atualmente é um dos gestores do Grupo Nós do Morro no Rio de Janeiro (RJ) juntamente com a cineasta e roteirista Luciana Bezerra e está em fase de conclusão do MBA em Gestão Cultural na Universidade Cândido Mendes (RJ). Sua monografia é sobre carreira artística e criativa e conta com a orientação da consultora Eliane Costa.   Leia mais

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