segunda-feira, julho 12, 2010

Alunos de produção cultural da Universidade Cândido Mendes dialogam com profissionais do mercado




Por Alê Barreto*


Em junho fui procurado por três alunos do bacharelado em Ciências Sociais com Ênfase em Política e Produção Cultural, que precisavam fazer um trabalho para a disciplina de Produção Executiva. O objetivo da entrevista era traçar o meu perfil profissional. Concordei em fazer, desde que eles concordassem em compartilhar o conhecimento. Eles concordaram.

Nos encontramos no Cine Odeon, no centro do Rio e passamos horas inesquecíveis. Aprendi muito com eles.

Segue aí o resultado do trabalho deles.


Perfil profissional de Alê Barreto


Autores: Aline Fonseca, Nathula Alencar e Thiago Santos


Introdução

Nos últimos trinta anos é possível observar um momento especial dentro do fenômeno maior tido como globalização, principalmente no que tange à economia e a cultura. O avanço das tecnologias informacionais ligadas diretamente, ou não, à internet, modificou e redesenha, a cada instante, os processos comunicacionais da humanidade. Mais interessante é pensar que, se a teoria magna da comunicação revela que esta ocorre quando interlocutores trocam mensagens por um meio específico, o conteúdo destas mensagens nada mais é do que... “cultura”. Esta proposta talvez explique a crescente centralidade com que temáticas ligadas à cultura têm ocupado a agenda internacional nas mais variadas esferas relacionais (governos, sociedade civil, empresas, etc...). Esta centralidade tem levado ao estabelecimento de novas agendas com pautas de discussão objetivando o estabelecimento de novos campos de estudo e, consequentemente, remodelando o conhecimento empírico e redesenhando a práxis cotidiana de mercados outrora estabelecidos.

Pois, segundo Kátia De Marco:

“A formação da profissão é uma construção gerada por seu reconhecimento social e pelo fortalecimento de sua representação associativa, que é consequência da capacitação profissional institucionalizada, considerando que essa etapa avaliza o status formal de um conhecimento. Este, por sua vez, reflete uma demanda preexistente nos mercados de consumo (ideias, produtos e ações) e de trabalho (emprego e necessidades de prestação de serviços), que respondem a uma ativação ou a um potencial de demandas estimuladas em crescimento. No entanto, indo além do que chamamos de formação da profissão, institui-se o amadurecimento desse processo que trata do estágio de “formalização da profissão”. […] Elo de ponta da cadeia de profissionalização da cultura, o mercado é o termômetro, é o espaço da concretude e das trocas reais, simbólicas e materiais. É nele que ocorre a confirmação ou não das ideias, dos prognósticos e das expectativas. Do mercado retornam as realidades, as vivências, as informações e os índices que refletem, interagem e avaliam todos os outros elos dessa cadeia".
(DE MARCO, K.A. Cadeia de Profissionalização da cultura)

E é a partir dessas premissas que entrevistamos Alexandre Barreto, 37 anos, que decidiu entrar para o mundo da produção cultural em 2003.

Em 2007, após passar por uma fase financeira difícil, adotou um novo conjunto de posturas profissionais em sua carreira. Uma destas posturas foi procurar artistas que estivessem investindo todo o seu tempo na música, assim como ele investia todo o seu tempo na carreira de produtor cultural independente. Tornou-se empresário da Pata de Elefante em maio daquele ano.

A “Pata”, como é carinhosamente chamada por Alê, era uma banda independente que estava saindo do circuito menor de shows para um circuito profissional de maior porte Ou seja, ainda não gerava um volume significativo de recursos próprios. Mesmo assim, Alê apostou no grupo e trabalhou juntamente com o músico Gustavo Telles na produção executiva do CD “Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha” e nos shows iniciais da turnê, em cidades da Grande Porto Alegre, interior do RS, Brasília e festival Goiânia Noise.

Mesmo trabalhando com uma banda que investia todo o seu tempo na música e que tinha um grande potencial de desenvolvimento, as dificuldades financeiras levaram Alê a repensar sua estratégia de trabalho. Decidiu ir buscar novas oportunidades e estudar na região sudeste.

Conversou este assunto abertamente com os músicos e deixou a liderança da produção executiva da banda em janeiro de 2008. Em abril deste mesmo ano chegou ao Rio de Janeiro onde iniciou a atividade de administrador e produtor cultural do Grupo Nós do Morro. Isso melhorou sua sustentabilidade, trouxe novos aprendizados e permitiu que voltasse a estudar, um de seus objetivos ao sair de Porto Alegre.

Em 2009 Alê completou o curso de extensão em “Micro e Macro Economia da Cultura” na Universidade Cândido Mendes e pediu licença para sair do Grupo Nós do Morro porque necessitava mais tempo para desenvolver seus projetos próprios.

De lá para cá já ministrou o curso “Aprenda a Organizar um Show” em 5 estados e presta consultoria de gestão em produção cultural para o Sebrae Acre e Rede Acreana de Cultura.

Em 2010 iniciou o “MBA em Gestão Cultural” na mesma instituição.




Alexandre Barreto apresentou o seguinte perfil:



Perfil Atitudinal


Produtor cultural da área de música independente.
Não é funcionário de grandes produtoras, mas pode prestar serviços específicos para estas.
Está disposto a atuar como empregado desde que contribua para sua carreira de produtor independente.
Forte traço empreendedor.
Presta serviços de assessoria e consultoria para artistas e produtores iniciantes.
Acredita que não se deve contar somente com leis de incentivo como base para a sustentabilidade na música independente.
Relaciona em grande escala sua vida pessoal ao seu trabalho. Prioriza trabalhos ligados à sua satisfação pessoal.


Perfil Motivacional

Não possui equipe fixa, pretendendo formar uma equipe com alunos dos cursos que ministrar.
Prioriza e incentiva a busca da capacitação profissional através do acúmulo de conhecimento e sua construção colaborativa. Entende que isso leva um profissional a estar melhor colocado no mercado de trabalho.
Marca diferenças inter-geracionais. Os mais antigos no ramo priorizariam o conhecimento construído através da prática e os mais novos estão buscando conhecimento nos cursos e academias.
As características nas quais um produtor executivo deve se concentrar: proatividade, clareza, objetividade, método, estratégia e otimização dos recursos.


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* Alê Barreto tem 38 anos. É administrador, produtor cultural independente, palestrante e gestor de conteúdo também dos blogs Alê Barreto, onde divulga seu processo de trabalho, e Encantadoras Mulheres, um blog que tem por objetivo reciclar valores machistas.

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