terça-feira, abril 11, 2017

Ministério da Cultura e Universidade Federal do Rio Grande do Sul lançam a "Coleção Atlas Econômico da Cultura Brasileira"


Cadeias produtivas que serão estudadas de forma prioritária: audiovisual, games, mercado editorial, música e museus e patrimônio



Por Alê Barreto *


Antes de falar diretamente sobre a publicação lançada pelo Ministério da Cultura e Universidade Federal do Rio Grande do Sul, acho importante contextualizar em que momento esta publicação chega em nosso país.

Linha do tempo sobre a preocupação com a dimensão econômica da cultura

Na introdução do artigo "Elementos para se pensar uma carreira profissional artística e criativa", que escrevi para a revista Cadernos do CEOM, da Universidade de Chapecó (UNOCHAPECÒ), faço uma breve linha do tempo, na qual cito que na década de 50 economistas americanos tentavam entender porque um indivíduo racional escolhe a carreira artística. Os pesquisadores tentavam entender porque alguém decide ocupar o seu tempo produtivo em atividades cuja oferta de trabalho é descontínua, as perspectivas de carreira são incertas e que, para garantir uma renda, na maioria das vezes é necessário o exercício de atividades complementares.

Com o tempo, estas pesquisas foram avançando e há algumas décadas os governos de alguns países tem se preocupado em ir além: medir a contribuição das atividades artísticas e culturais para a economia de uma nação.

Ainda em meu artigo, cito que


"em 2003 o Ministro da Cultura, Gilberto Gil, iniciou um amplo diálogo e debate com artistas, produtores, gestores públicos de cultura e outros interessados na construção das políticas públicas brasileiras, em vinte encontros do Seminário Cultura para Todos, nos quais se foi além das discussões sobre as dimensões simbólica e cidadã da cultura, tradicionalmente aceitas pela ampla maioria dos intelectuais. Ao ouvir diferentes agentes culturais acerca das questões do financiamento da cultura, em especial os debates sobre necessidade de alteração da Lei Rouanet, o Estado brasileiro reconheceu e passou a difundir a necessidade de se pensar na dimensão econômica da cultura. Como se estivesse preocupado em correr atrás do tempo perdido, o Estado brasileiro afirmou em 2008, através da gestão do ministro Juca Ferreira, no caderno “Diretrizes Gerais para o Plano Nacional de Cultura”, que “[...]a cultura, como lugar de inovação e expressão da criatividade brasileira, apresenta-se como parte constitutiva do novo cenário de desenvolvimento econômico socialmente justo e sustentável.” (MINISTÉRIO DA CULTURA;COMISSÃO PERMANENTE..., 2008, p. 12). Tal afirmação é uma demonstração clara que o Estado brasileiro não só passou a reconhecer a importância da dimensão econômica da cultura e a fomentar sua pesquisa, mas também percebeu que a relação intrínseca desta com a criatividade e inovação passou a ser uma importante variável com forte influência no novo cenário econômico mundial. Em 2008 o mercado de bens e serviços criativos sofreu poucos impactos, apesar da crise global. Enquanto o comércio internacional registrou naquele ano queda de 12%, as transações de bens e serviços criativos permaneceram aquecidas, com US$592 bilhões em negócios (ACIOLI;IAQUINTO; MONTEIRO;THIMOTEO, 2011). Avançando nesta direção, a ministra da Cultura Ana de Holanda criou em 2011 a Secretaria da Economia Criativa, órgão cuja gestão esteve inicialmente a cargo de Cláudia Leitão e que com o lançamento do “Plano da Secretaria da Economia Criativa: políticas, diretrizes e ações 2011-2014” assumiu a tarefa “[...] de repensar, de reconduzir, de liderar os debates e a formulação de políticas sobre a cultura e o desenvolvimento no Brasil, com a missão de transformar a criatividade brasileira em inovação e a inovação em riqueza:riqueza cultural, riqueza econômica e riqueza social.” (LEITÃO, 2011).

Novamente à frente do Ministério da Cultura, Juca Ferreira extinguiu a Secretaria de Economia Criativa em março de 2015.


Atlas Econômico da Cultura Brasileira

Após assumir o Ministério da Cultura em 2016, Roberto Freire deu início à uma importante ação de pesquisa e fomento da dimensão econômica da cultura, que mostrou seus primeiros passos no dia 5 de abril, com a publicação dos primeiros dois volumes da Coleção Atlas Econômico da Cultura Brasileira. O Ministério da Cultura aposta que as seis obras que compõem a coleção serão uma importante ferramenta para maior valorização da Cultura em nosso país.

No texto de divulgação da coleção publicado no site do Ministério da Cultura, Roberto Freire afirma:

"o fato de termos a dimensão econômica da Cultura pouco contabilizada leva a certa descrença do próprio governo de que o setor tenha um grande impacto econômico. O Atlas vai mostrar o quanto do que se produz de riqueza vem da área cultural, o que levará à conscientização do Governo de que, em vez de se cortar recursos da Cultura em um momento de crise, é importante fazer o contrário: investir em Cultura para movimentar a economia e fazê-la crescer".

Volumes I e II do Atlas

O Volume I do Atlas traz estimativas do Banco Mundial que situam a cultura como responsável por 7% do PIB do planeta no ano de 2008. No caso brasileiro, dependendo da forma de cálculo, os setores culturais podem chegar a cerca de 4% do PIB anual em 2010, sendo considerado um eixo estratégico de desenvolvimento socioeconômico pelo MinC.
De acordo com as pesquisas publicadas no segundo volume da Coleção Atlas, é possível mensurar aproximadamente a importância dos processos econômicos a partir de organizações e agentes culturais em 2,64% do PIB de 2016, contribuindo com R$ 155,6 bilhões de produção, apresentando um crescimento acumulado de quase 70% nos últimos 10 anos e constituindo 3,5% da cesta de exportação brasileira (segundo dados da Firjan). Além de mapear e sistematizar o grande impacto do setor cultural na economia do país, que se compara a setores como mineração e turismo, o Atlas servirá como uma ferramenta importante para o Governo brasileiro na priorização de políticas públicas nessa área, inclusive em momentos de crise.

Os resultados referentes aos quatro eixos temáticos do Atlas serão lançados a cada trimestre, tendo como previsão a entrega da completa para abril de 2018, durante a realização do evento Mercado de Indústrias Culturais do Sul - MICSUL. Concomitantemente, as informações de cada eixo também estarão disponíveis em uma plataforma digital, na qual a sociedade brasileira poderá acessar os conteúdos, dados e indicadores, além de um repositório com as pesquisas e produtos resultantes de parcerias com universidades, CNPQ e consultorias contratadas pelo MinC. Além disso, a Coleção, lançada a partir desses dois primeiros volumes, seguirá em paralelo com a publicação de cadernos setoriais, a realização de seminários para avaliação dos eixos.

Organizações que colaboram com o projeto

Elaborado pelo Ministério da Cultura em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), por meio do NECCULT (coordenado pelo professor Leandro Valiati), o Atlas conta ainda com a colaboração de instituições como a Organização das Nações Unidades para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Banco Nacional de Desenvolvimento e Econômico e Social (BNDES), a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), entre outros.

Os dois primeiros volumes da Coleção Atlas estarão disponíveis no portal do MinC e no NECCULT até julho.


Fontes: citações (indiretas ou diretas):

Revista Cadernos do CEOM n. 39

Site do Ministério da Cultura

Site do NECCULT


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* Alexandre Barreto é administrador pela Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (EAD/UFRGS) e MBA em Gestão Cultural pela Universidade Cândido Mendes (RJ) . Empreendedor que dissemina conhecimentos e atua em redes para promover mudanças. Escreveu os livros Aprenda a Organizar um Show e Carreira Artística e Criativa
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