terça-feira, novembro 02, 2010

Algo que pouco se falou nas eleições 2010




Por Alê Barreto*


Nasci em 1972. O Brasil era um país em que muita gente acreditava que estávamos sendo bem governados e muita gente não concordava com isso. Quem governava e quem apoiava quem governava, dizia que vivíamos sobre os princípios da “revolução de 64”. Quem não governava e era contra quem governava, dizia que vivíamos as consequências do “Golpe de 64”.

Em 1979 veio a lei da anistia e o país começou o seu processo de redemocratização. Neste período, muita gente que governava (não todos) e muita gente que apoiava quem governava (não todos), dizia que o país estava indo para a direção errada, pois a desordem e a anarquia iria se instaurar no país. No mesmo período, muita gente que não governava e que era contra quem governava, comemorava que em breve teríamos eleições, algo que consideravam fundamental para se viver bem neste país.

Veio a campanha “Diretas Já”. Veio a eleição de Tancredo Neves. Em 1989 comecei a votar. Durante todos estes períodos, repetiu-se o fenômeno: quem era da situação, defendia esta posição. Quem era da oposição, defendia outra posição. A guerra entre as diferentes posições políticas continuou. Assistimos (e ainda estamos assistindo…) militantes do Serra e da Dilma trocarem farpas através das redes sociais.

Mas há um aspecto que pouco se falou nas eleições 2010 que para mim é um dos mais significativos: iniciativas organizadas apontam uma tendência no crescimento da qualidade da participação dos cidadãos brasileiros no processo de gestão do país.

Antigamente, quando comecei a votar, aos 16 anos, a noção que existia de qualidade da participação do cidadão era a de que era importante “votar consciente”, “votar certo”. O que é “votar certo”? Apoiar quem tem chance de ganhar? Votar em quem promete mudanças? Votar em quem tem maior apoio político? Votar em quem tem experiência? Votar em quem fala o que a população quer ouvir? Não é fácil em meio a tantas questões ter certeza de que se vai votar certo.

Torcer para um partido ou para outro não me parece ser um bom critério para melhorar a qualidade da nossa participação. Penso que a nossa participação precisa ter como alicerce vários critérios importantes. Alguns que atendam nossas convicções, nossa noção do que é certo, mas critérios que também permitam a construção de um grande espírito de equipe voltado melhorar o Brasil como um todo.

Pensando neste espírito de equipe, convido quem está comemorando a vitória de seus candidatos ou se articulando para fazer oposição ferrenha nos próximos anos para reconhecer duas iniciativas que melhoraram e podem proporcionar mais avanços na qualidade de nossa participação: o movimento Ficha Limpa e o Partido da Cultura.

Alguém poderia imaginar que num ano eleitoral um projeto como o Ficha Limpa ganharia tanta atenção e quase produziria já os seus primeiros efeitos? Dificilmente algum analista político apostaria sua credibilidade fazendo esta previsão. Mas a lei está aí. Um ótimo sinal de que o brasileiro finalmente reconheceu que a corrupção impede o nosso crescimento como nação. Produzimos uma ação que terá efeito no longo prazo. Parabéns para nossa participação.

Setor cultural organizado parece ser algo impossível de se pensar? Sim, mas em 2010 começamos de fato a transformar esta realidade. Não estou aqui desprezando os esforços que têm sido feitos neste sentido ao longo dos últimos anos, em diferentes partes do Brasil. Quero apenas dar destaque ao fato de que o Partido da Cultura, movimento apartidário que surgiu neste ano de eleições (tem gente do Serra, da Dilma, da Marina, etc), mostra que estamos percebendo o valor real das nossas culturas e o quanto isso nos fortalece enquanto nação.

Novamente, parabéns para nossa participação.

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* Alê Barreto é administrador, produtor cultural e autor do livro Aprenda a Organizar um Show, primeira publicação disponibilizada de forma livre e gratuita no Brasil sobre a tecnologia de produção de shows. Trabalha novos conceitos e oferece serviços diferenciados para empresas, produtores, grupos culturais e artistas. Divulga reflexões sobre seu processo de trabalho no blog Alê Barreto, divulga ideias contra o machismo no blog encantadoras mulheres e compartilha a experiência do método livre de produção de shows no blog "Aprenda a Organizar um Show".


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