segunda-feira, abril 19, 2010

Conheça o Guia Brasileiro de Produção Cultural 2010-2011




Por Alê Barreto
Administrador, produtor cultural independente e palestrante


Sinto que vou ter que ir criando vários blogues. Os assuntos são muitos e a vontade de divi-los com vocês é imensa. Trabalhar com produção cultural, para mim, é isso: troca. Cada vez que eu troco, a sensação é indescritível. Muito bom.

Troca é justamente a palavra que melhor expressa, na minha opinião, o novo "Guia Brasileiro de Produção Cultural: 2010-2011", organizado por Cristiane Olivieri e Edson Natale.

O livro começa com o texto "Agentes e Sujeitos Culturais" escrito por Danilo Santos de Miranda, diretor regional do SESC São Paulo, que já nas primeiras páginas ensina:

"(...) Não existe nenhuma possibilidade de que trabalhos culturais sejam feitos sem alguma dose de risco, mas conhecê-los, ainda que não inteiramente, garante menos dor no aprendizado".

Para quem não sabe, Danilo Santos de Miranda é organizador do livro "Ética e Cultura", um conjunto de textos do seminário homônimo realizado pelo SESC SP em 2001, com chancela da Unesco.

No capítulo 1, "Planejamento", conceito que estudamos muito nas áreas de administração, engenharia e arquitetura, mas que nem sempre é visto com bons olhos por artistas e produtores (isso está mudando), é apresentado de forma acessível, o que estimula a compreensão de sua importância na atividade de produção cultural.

Preste atenção ao item "indicadores de desempenho".

No capítulo 2, "Economia Criativa", são apresentadas referências deste novo conceito. Temos ainda uma certa tradição de separar os assuntos culturais como se fosse um terreno em que não houvesse consumo. Para muita gente, moda não é cultura, é percebida como algo menos "nobre", pois é algo "comercial". Na entrevista "Decodificar, alterar, desconstruir e reconstruir", Jum Nakao amplia esta visão:

"O lugar que você habita tem relação direta com seus hábitos e hábito também significa roupa. Moda permeia os lugares que uma pessoa frequenta, os livros que lê, as bandas que ouve, a forma como se expressa e como recebe as pessoas em casa, a gastronomia, a cultura ao seu redor e por fim, sua roupa. A moda para mim é a conexão final entre o habitat interior, seus hábitos e o local que você habita".

Preste atenção na entrevista com Felipe Altenfelder Silva do núcleo cooperativo de comunicação "Massa Coletiva" de São Carlos (SP), na entrevista "Da Bienal do Fim do Mundo até a InArts" com produtora e curadora Ana Helena Curti e na entrevista "Lixo, aterros sanitários, consumo e reciclagem" com Alexandre Ferrari.

No capítulo 3, "Questões Jurídicas", mais boas surpresas. Um repertório de informações que mostra que a área de produção cultural necessita trabalhar em parceria com os profissionais da área do Direito.

Preste atenção: seja por exigência legal ou por questões de organização, na área de produção cultural trabalhamos muito com contratos.

O capítulo 4, "Direito do autor", é uma espécie de "glossário" de propriedade intelectual. Conhecer estes termos facilita o trabalho de análise de contratos no dia a dia do produtor cultural.

Preste atenção em "O que é necessário para produzir um CD?", "Check list dos direitos envolvidos numa produção audiovisual e numa representação cênica" e "Creative Commons".

O capítulo 5, "Instituições Culturais", apresenta um panorama de como a maior parte das organizações culturais estão organizadas no Brasil.

Preste atenção ao texto "Desenvolvimento institucional - a construção da sustentabilidade das instituições culturais" e a entrevista "A captação de recursos nos EUA" com Janet Bailey.

No capítulo 6, "Questões financeiras", Stefano Florissi e Afonso Reis conversam com o leitor no texto "A economia não é bicho-papão" sobre o quanto a economia está presente em nossas vidas (inclusive na atividade de produção cultural) e o quanto temos dificuldade de entendê-la.

Preste atenção no item "Cuidados a serem tomados nas contratações e pagamentos".

O capítulo 7, "Projetos e Financiamento à Cultura", inicia com a seguinte frase:

"O Financiamento à Cultura vem sendo discutido, nos últimos anos, quase sempre apenas do ponto de vista dos patrocínios e dos incentivos fiscais à cultura".

Concordo com esta afirmação e sei que os autores não tem nenhuma intenção de fortalecer este paradigma, uma vez que mais adiante no texto alertam:

"(...) ressaltamos a importância das outras fontes - a boa e velha bilheteria (ou venda do produto cultural), os fundos públicos (nacionais ou internacionais), empréstimos e o escambo".

Acho oportuno afirmar que esta situação também está mudando. O SEBRAE vem pouco a pouco ampliando seu olhar para o setor cultural. Eu, particularmente, acredito muito nisso. O setor cultural, em sua maior parte, é formado por micro e pequenas empresas. Precisamos aprender a lidar com esta situação, perceber nossos pontos fortes e aprender a aproveitar as oportunidades.

O tema abordado neste capítulo é um dos mais importantes do livro.

Preste atenção no item "lembretes para captação de recursos".


O capítulo 8, "Comunicação", começa com um inteligente convite à reflexão:

"Revistas, jornais, emissoras de rádio, Web rádios, podcasts, blogs, canais de TV aberta, TV a cabo, sites, e-mails, telefonia celular, anúncios publicitários em ônibus, táxis, trens e metrôs, zines, assessoria de imprensa, comunicação dirigida. Hoje são inúmeras as alternativas para a divulgação de projetos, apresentações, festivais e produtos culturais. Nesta babel de possibilidades, ainda se repetem à exaustão os poucos modelos vitoriosos (e muitas vezes os adotamos como fórmulas: se deu certo para o projeto de alguém, por que não daria certo para o meu?)".

Fica nítida a impressão de que os autores do livro estimulam que os produtores culturais aprendam a lidar com as possibilidades.

Preste atenção em "Comunique bem sua ideia" e "assessoria de imprensa".

O capítulo 9, "Produção", foi estrategicamente colocado no final. Segundo os autores, é uma forma de mostrar ao leitor a importância de se conhecer todas as etapas antes de se "colocar a mão na massa". Concordo 100%. O produtor "empírico" está com os dias contados.

Mas, para além das habilidades e competências técnicas, o capítulo mostra também falas muito significativas, como as entrevistas "A insaciável curiosidade artística" com a produtora cultural Monique Gardenberg, sócia da Dueto Produções, "A produção cultural na China" com Fernanda Ramone e "O Acre" com Daniel Zen. Daniel é um importante agente cultural no Acre. Tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente em novembro de 2009, quando fui realizar uma consultoria para o SEBRAE do Acre.

Preste atenção nas "Dicas básicas para participar de feiras internacionais".

O apêndice "Educar para a cultura" parece ser o fim. Mas é o início. Um livro de produção cultural que dedica um capítulo ao tema educação é o sinal que estamos começando um novo tempo, em que a especialização não é inimiga das transversalidades, em que o foco pode ser multidirecional.

Preste atenção nas entrevistas "A Escola Lumiar" com Ricardo Semler (autor do livro "Virando a própria mesa", primeira publicação que li sobre o tema de administração) e "A arte como instrumento para a educação" com Carlos Barmak.

O livro é uma importante e atualizada fonte de consulta para os profissionais que atuam no setor cultural. Cristiane Olivieri, Edson Natale, todos os autores, consultores e equipe do livro estão de parabéns.

Para adquiri-lo, basta entrar na loja das Edições SESC.

3 comentários:

Mamute disse...

Boa tarde, gostaria de saber uma coisa amigo,
para eu produzir um evento, no caso um baile, tipo micareta, eu preciso de um cnpj ou eu mesmo como pessoa física posso produzir e desenvolver o show?

obrigado e parabéns pelo trabalho.

Alexandre Barreto disse...

Para se produzir um show, você necessita tempo, conhecimento, recursos e, de preferência, vocação para a atividade.

Um dos recursos, no caso de grandes eventos, é possuir uma empresa legalmente constituída, que usualmente chamamos "ter CNPJ".

Nas periferias, muitas festas e eventos grandes são produzidos sem a necessidade de se ter uma empresa legalmente constituída. Mas um dos primeiros passos para se trabalhar organizado é ter uma empresa organizada ou trabalhar em uma empresa que seja organizada.

Um abraço,

Alê Barreto

Raytch disse...

Parabéns pela iniciativa,muito interessante seu blog!