sábado, outubro 18, 2008

Alfabetização para as mídias: como ler o que não está escrito



Conteúdo extraído da revista Mídia Com Democracia, nº 1, janeiro de 2006.

Assistir à TV, ouvir programas de rádio, ler jornal, revista, se emocionar com a trama de uma novela são ações comuns que preenchem a rotina da maioria dos cidadãos no mundo todo. A mídia está em tudo isso e mais: outdoors, letreiros luminosos, mensagens em celulares, pagers, internet, e muitos outros meios. Através das mensagens midiáticas, o imaginário popular formula pensamentos, adapta seus modos de vida e até define relações pessoais e interações sociais. Essa influência poderosa merece estudo. A educação para mídia é um campo vasto de ensino e aprendizado que tenta desconstruir as mensagens veiculadas pelos meios de comunicação para entender
como se opera a formação de opinião, gostos e valores.

Em síntese, a chamada media literacy (expressão inglesa que não tem uma tradução no português) pode ser subdividida em três campos:

Alfabetismo visual – habilidade para interpretar o simbolismo das imagens visuais estáticas ou em movimento e entender seus impactos na audiência.

Alfabetismo midiático – habilidade para entender como os meios de
comunicação de massa, como TV, cinema, rádio e jornais trabalham na produção de significações e como estão organizados.

Leitura Crítica da Mídia – habilidade para entender como apresentadores, escritores e produtores de textos e conteúdos audiovisuais integram contextos particulares e são influenciados por aspectos pessoais, sociais e culturais.

Maria Aparecida Baccega, professora da Universidade de São Paulo (USP), atua na área há 20 anos. Ela considera que uma mudança social inclusiva só pode ser efetivamente alcançada se houver senso crítico para isso, e “a educação desempenha aí papel fundamental”. Criadora da revista Comunicação e Educação, a docente diz que sempre foi difícil atuar nessa área, devido à postura restritiva de professores, diretores, comunidade, pais e estudantes. “A tarefa de mostrar a importância de uma leitura crítica do que se vê na TV ou se lê nos jornais e revistas vira entrave na relação professor-aluno. O objetivo de possibilitar que os alunos aprendam que a mídia se mostra como um mundo editado segue sendo um papel árduo, seja na universidade ou na comunidade”, relata. Para a professora, ver a mídia de um outro jeito é tentar construir uma nova variável histórica, mas não significa se posicionar contra ela. “Devemos parar de reproduzir o que está exposto no mercado há séculos”, considera.

Falta de apoio

A presidente da União Cristã Brasileira de Comunicação Social (UCBC), Desireé Cipriano Rabelo, diz que a entidade tenta criar capacitadores para desenvolver
um pensamento transformador na busca por outras formas de comunicação. “Vivemos uma fase de redefinição dos programas em torno dessa causa devido aos altos e baixos no interesse da população, que precisa criar suas próprias formas de comunicação”, resume. As entidades associadas da UCBC promovem cursos de leitura crítica da mídia
no Brasil há 30 anos.

O incentivo a projetos políticos ligados à educação para a comunicação inexiste em grande parte das universidades, e mesmo de comunidades ou organizações. O investimento por parte das instituições acadêmicas ainda é pequeno. Segundo Baccega,
falta fomento à interação de agentes educacionais na discussão da mídia e oportunidades de trabalhar nessa área. “Sinto que não temos maturidade suficiente
para propormos coisas novas, justamente por não haver incentivo”, justifica.

Fora do Brasil, a educação para a comunicação é abordada com mais valorização e apoio por parte das universidades e governos. Países como o Canadá – que já inclui no currículo do ensino médio conteúdos de media literacy –, Austrália, Tailândia, Grã-Bretanha, Israel, Finlândia, México, Espanha, Índia e Filipinas também possuem projetos de educação para uma leitura crítica das mensagens. Nos Estados Unidos, O Center for Media Literacy (CML), localizado na Califórnia, é um precursor nesse campo de estudo. Instituído em 1989, o CML é uma organização educacional sem fins lucrativos e com o objetivo de promover liderança, educação pública, desenvolvimento profissional e recursos educacionais. Segundo a presidente do CML, Tessa Jolls, a organização ajuda os cidadãos, especialmente os mais jovens, a desenvolver o pensamento crítico e a produzir habilidades de leitura necessárias para a vivência
na cultura midiática do Século XXI.


Participe da sexta edição do Simpósio Brasileiro de Educomunicação

O Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da USP e o Serviço Social do Comércio de São Paulo (SESC) promovem, entre os dias 28 e 30, em São Paulo, a sexta edição do Simpósio Brasileiro de Educomunicação, com o tema: "Meio Ambiente, Jornalismo e Educomunicação". O evento contará com o co-patrocínio do Canal Futura, do International Institute of Journalism and Communication (Genebra, Suíça) e do Departamento de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente e será realizado no SESC Vila Mariana (R.Pelotas, 141, São Paulo).

Mostras de documentários e atividades artísticas farão parte da programação, ao que se somará como uma série de workshops voltados à produção de documentários para TV e de programa de rádio em escolas, bem como à mobilização multimediática em torno dos temas ambientais.

Mais informações: (11) 3091-4784 ou e-mail izabelwiz@gmail.com

Um comentário:

Eliana Mara Chiossi disse...

Alé,

gostei muito do espaço e já estou usando para compartilhar e divulgar com meus alunos.
sou professora na UFBa, de Literatura e leitura e produção de textos.
Queria entrar em contato, pedir umas dicas, trocar idéias.

abraços

eliana.mara@gmail.com