segunda-feira, outubro 04, 2010

Especial "29ª Bienal de São Paulo: possibilidades para se apreciar a exposição"




Por Alê Barreto*


Como me fez bem o dia de ontem. Independente das eleições encerrarem no primeiro turno ou de termos segundo turno, independente de já sabermos ou não quem será a pessoa que será empossada presidente do Brasil nos próximos anos, foi muito gostoso ver o povo do Rio de Janeiro comemorando as eleições, fazendo a festa da democracia.

Mas vamos ao trabalho. A convite da Petrobras, estarei visitando a 29ª Bienal de São Paulo amanhã. Resolvi me preparar. Fiz uma consulta rápida em três fontes de informações, para ampliar o meu olhar:

- site da Bienal;

- a entrevista "A arte aponta aquilo que falta em você" em que Mariana Sgarioni dialoga com Paulo Sérgio Duarte, crítico, professor de história da arte e pesquisador, na revista Continuum no. 19 (março/abril de 2009);

- uma consultoria com a minha irmã, Eliane Barreto, que é artista plástica formada na Universidade Federal de Santa Maria, RS.


Feita a pesquisa, elaborei um pequeno roteiro, para organizar e aproveitar melhor a exposição.


Histórico da exposição

Criada em 1951, a Bienal de São Paulo, inspirada na Bienal de Veneza, foi a segunda megaexposição de arte contemporânea do mundo, a primeira do Hemisfério Sul. Atuando como elo entre o Brasil e o cenário internacional, a Bienal vem cumprindo, desde então, o papel de promover o intercâmbio cultural, estimular o circuito artístico local e divulgar a arte brasileira e o Brasil no exterior. O balanço de seus quase sessenta anos de atuação é amplamente positivo. Por aqui passaram, e continuam a passar, os principais artistas internacionais desde o pós-guerra.


Contexto da exposição

A Bienal de São Paulo, cuja 29ª edição ocorre de 25 de setembro a 12 de dezembro deste ano, cumpre um papel central no desenvolvimento da arte brasileira. Seu impacto, porém, transcende em muito o plano estritamente cultural. Atuando como instrumento de educação e inserção social, e servindo de alavanca para estimular a produção e o consumo de bens culturais, a Bienal é um importante catalisador da economia criativa e símbolo da modernidade não só de nossa cidade, mas do Brasil.


Impactos desta ação cultural

Para esta edição, de 2010, foram celebradas parcerias com as Secretarias de Educação do Estado e do Munícipio de São Paulo, e de outras cidades vizinhas, e com inúmeras instituições privadas de ensino e ONGs para capacitar mais de 35 mil educadores, de forma que eles possam trabalhar o tema da Bienal em sala de aula e posteriormente levar seus alunos ao pavilhão. No total, esperam-se mais de 400 mil visitas guiadas, o que o torna um dos maiores e mais abrangentes programas educativos já realizados no campo das artes.

De difícil mensuração, o impacto econômico da Bienal é pouco discutido, mas não pode de modo algum ser subestimado. A produção artística é uma das atividades de maior valor agregado na economia. A obra de arte materializa o capital intelectual. Quanto maior valor adquirem as obras de arte de nossos artistas, maior a riqueza gerada para o país. E tal riqueza acaba sendo distribuída entre todos no mundo das artes – artistas, galerias, casas de leilão, instituições culturais, escolas etc. Além disso, o circuito das artes é um grande incentivo ao turismo.


Critérios da curadoria

O conceito da 29ª Bienal está ancorado na idéia de que é impossível separar arte e política. Impossibilidade que se expressa no fato de a arte, por meios que lhes são próprios, ser capaz de interromper as coordenadas sensoriais com que entendemos e habitamos o mundo, inserindo nele temas e atitudes que ali não cabiam ainda, tornando-o assim maior e diferente.

A exposição se esquiva dos modelos vinculados somente às demandas apressadas do mercado e do espetáculo (o que é supostamente inédito) e se esquiva do modelo museológico estrito que inscreve a produção artística em uma narrativa histórica legitimada e sem fissuras.

Em lugar de privilegiar somente o que é recente ou, alternativamente, apenas o que é estabelecido, a mostra vai afirmar, por meio da articulação de trabalhos feitos em diferentes momentos, vínculos temporais que evidenciem, desde a plataforma conceitual definida, continuidades na criação artística das últimas décadas. O fundamental é que, seja inédita ou antiga, a produção reunida tenha potência simbólica para abrir frestas, de duração e de tamanho diversos, nos consensos em que se funda o entendimento das ideias e das coisas que organizam o mundo.


Para saber mais



Conceitos que orientaram a arquitetura da exposição

Ocupar todo o espaço, sombrear, preencher. Buscar luz, abrir, reconhecer os campos articulados em núcleos, relacionar as numerosas salas à grelha ortogonal existente. Esse foi o gesto inicial.


Saiba mais



Possibilidades para se apreciar a exposição


Segundo o crítico Paulo Sérgio Duarte,

"Toda avaliação estética foi e vai ser um juízo de valor. Se assim é, ela será sempre de natureza subjetiva. Não existem critérios objetivos, nem houve, nem nunca vai haver, para avaliar uma obra de arte, seja ela qual for. O que existem são consensos, que são estabelecidos por uma coletividade que está de acordo com certos valores".


Desta forma, a artista plástica Eliane Barreto aconselha:

- buscar conhecer os artistas antes da visitação (informações sobre os participantes da Bienal);

- se o tempo for curto, correr o risco de escolher alguns que considere importante visitar;

- estar despojado dos "pré" conceitos;

- aguçar a curiosidade, questionar;

- estar receptivo e perceber como se é "tocado" por uma obra de arte, como ela "reverbera em você";

- se permitir a liberdade de navegar;

- compartilhar as impressões da visita com outras pessoas, para que a arte circule em redes cada vez mais amplas.



Túnel do tempo



Eu trabalhando como assistente de produção na exposição "Freud para Todos" em abril de 2003, no Santander Cultural, em Porto Alegre.


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* Alê Barreto é administrador, produtor cultural e autor do livro Aprenda a Organizar um Show, primeira publicação disponibilizada de forma livre e gratuita no Brasil sobre a tecnologia de produção de shows. Trabalha novos conceitos e oferece serviços diferenciados para empresas, produtores, grupos culturais e artistas. Divulga reflexões sobre seu processo de trabalho no blog Alê Barreto e valoriza encantadoras mulheres.

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