quinta-feira, outubro 06, 2011

Você tem recebido pedidos de projeto "na pindureta"?




Por Alê Barreto*
alebarreto@gmail.com


O divertido vídeo acima é do programa "Os Trapalhões". Para quem é muito novo ou não é do Brasil, "Os Trapalhões" foi um programa que eu e muita gente que tem a minha idade assistiu na infância. Ele era exibido aos domingos e tinha uma audiência muito grande.

O enredo desta esquete mostra o "Mussum" (Antônio Carlos Bernardes Gomes) tentando convencer o "Didi" (Renato Aragão) a vender cerveja para "pagar um dia". A comédia mostra uma situação muito comum na área criativa: o pedido de serviços "à prazo", que muitas vezes tornam-se gratuitos. Vejamos como isso ocorre no universo da elaboração dos projetos.

Fazer um projeto para buscar recursos e financiamento é uma prática que eu aprovo e incentivo. Em muitos contextos, pode ser um passo importante para desenvolver um empreendimento criativo.

Mas com os anos foi surgindo no mercado algumas "máximas", algumas "fórmulas de sucesso". Uma delas é a célebre frase "dinheiro têm, o que faltam são bons projetos". O desejo de ganhar dinheiro fácil, algo muito presente em nossa sociedade, criou uma verdadeira avalanche de pessoas interessadas neste "dinheiro que existe e que não encontra bons projetos".

De um lado, existem pessoas que possuem uma boa rede de relacionamento e podem falar diretamente com pessoas que recebem projetos. De outro lado, existem pessoas que sabem redigir um projeto, mas são tímidas, não gostam de vender ou simplesmente não tem acesso às pessoas que recebem propostas de projetos. Este é o contexto que criou o chamado "projeto de risco". Você sabe o que é isso?

"Projeto de risco" é o nome dado para o serviço de planejamento de um projeto com a promessa de um pagamento à prazo, caso o projeto receba algum tipo de financiamento.

Ou seja: você irá trabalhar e entregar o produto do seu trabalho ciente de que já aceitou a possibilidade de talvez não receber nada por isso.

Para não esquecer: projeto de risco é o nome dado para o serviço de planejamento de projeto. Você faz uma reunião para ouvir as necessidades de que alguém que diz que tem bons contatos, que só precisa de um bom projeto. Você precisa analisar informações, criar conteúdo, criar um nome para o projeto, criar objetivos, criar justificativa, ligar para muitas empresas para fazer orçamentos, montar uma planilha de orçamento, fazer um plano de desembolso, fazer um cronograma, fazer um plano de comunicação e fazer um plano de distribuição. E no final você entrega tudo isso com a "promessa" de que será remunerado "se for possível captar recursos para este projeto".

Talvez você ache que trabalhar com o risco de não receber não seja um problema. De fato, para pessoas que desejam atuar como voluntárias, trabalhar de graça não é um problema. Pessoas que estão começando uma atividade profissional também não se importam de trabalhar apenas em troca de aprendizado e experiência. Eu inclusive estimulo e recomendo que voluntários e novos profissionais façam isso. É uma forma de se aproximar mais rápido daquilo que desejam fazer.

Mas se você decidiu que quer viver do seu trabalho, aceitar trabalhar com o risco de não receber pagamento é um sério obstáculo para o desenvolvimento de sua carreira.


Condições precárias de trabalho e redução da qualidade de vida

Quando você aceita o "projeto de risco", você aceita trabalhar em condições precárias. Mesmo que lhe disponibilizem um escritório com computador e telefone, você precisa de dinheiro para pagar o seu transporte, sua alimentação e todas as despesas da sua vida. Então terá que contrair empréstimos, utilizar limite bancário, utilizar cartões de crédito.

A falta de condições de trabalho adequadas e as dívidas fatalmente irão reduzir sua qualidade de vida.


Círculo vicioso

Se você ficar conhecido no mercado como alguém que trabalha "sempre à prazo", por qualquer valor ou sem receber pagamento, cada vez mais fará com que você seja procurado somente por pessoas que oferecem "projetos de risco". Tentando sobreviver, você vai pensar que "se estão aparecendo muitos projetos, é assim que o mercado trabalha". Então, para aumentar suas chances de obter a quantia necessária para sua subsistência, você terá a ideia de "aumentar a quantidade de projetos de risco". Com um volume excessivo de trabalho, em condições precárias, sem dinheiro para as suas necessidades de curto prazo e com pouca qualidade de vida, sobrará pouca energia e tempo para pensar e executar ações estratégicas para romper com este círculo vicioso.


Sentimento de incapacidade

Preso a um círculo vicioso, após sucessivos trabalhos sem receber nada, você se confunde e começa a achar que o seu trabalho não tem valor. Não é verdade. O seu trabalho tem valor.


Aprenda a valorizar o seu trabalho

Se quiser continuar fazendo projetos "na pindureta", com a promessa de pagamento à prazo, procure fazer isso com critério. E não torne este modelo a forma principal de sua subsistência. No curto prazo, pode ser uma boa. Mas será que isso é bom para o futuro da sua carreira? Será que isso é bom para a sua vida?

Aprender a valorizar o seu trabalho é valorizar a sua vida.


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* Alê Barreto é formado em Administração com Ênfase em Marketing pela Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Em 2005 prestou serviços de produção executiva para Opus Promoções em shows nacionais (Acústico MTV Bandas Gaúchas), internacionais (Avril Lavigne, Steel Pulse) e festivais (Claro que é Rock, IBest Rock, Live n´ Louder). Em 2007 foi empresário da banda Pata de Elefante. Mudou-se para o Rio de Janeiro onde trabalhou como administrador e produtor executivo junto a diretoria do Grupo Nós do Morro até 2009. Hoje é voluntário do grupo. Desde de 2010 é aluno do Programa de Estudos Culturais e Sociais da Universidade Cândido Mendes, onde cursa a pós-graduação MBA em Gestão Cultural. Ter trabalhado com artistas, grandes eventos e num grupo importante não alterou o seu modo de vida simples, característico de uma pessoa que nasceu numa cidade do interior do Brasil.

Escreve com frequência no blog Produtor Cultural Independente, canal de disseminação de informações. Saiba mais



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