sexta-feira, dezembro 11, 2009

O método, a leveza, a delicadeza, a capacidade de ouvir e gerar resposta do outro e aprender a priorizar


"Discurso do Método" - Descartes


Alê Barreto (produtor cultural independente)


Depois de apresentar conteúdos relacionados a novas formas de organizar a cultura ("O que são coletivos?", "Coletivo Catraia"), as novas formas de expressão da cultura (video game), eventos culturais (Conferência Livre de Cultura em SP), bibliografias e sugestões de micro patrocínio para captação de recursos, durante este mês de dezembro, vamos pensar mais. Pensar sobre como estão sendo construídos e gestionados nossos arranjos de trabalho na área de produção cultural. Para isso, quero falar um pouco sobre expectativas, método, apresentar falas da professora Heloisa Buarque de Holanda sobre leveza, a delicadeza, a capacidade de ouvir e gerar resposta do outro, priorizar para lidar com o excesso de atividades e sugerir algumas reflexões.


Expectativa

Na medida que vou exercendo minha atividade, percebo que muitas pessoas projetam na figura do produtor cultural o papel de salvador da pátria, assim como se faz com líderes, políticos, etc. Se espera tudo do produtor cultural, mas esta "expectativa" muitas vezes é construída de forma equivocada. Ao invés de se incluir um pouquinho de razão e organização como ingredientes para construção de uma expectativa, as pessoas estabelecem arranjos de trabalho baseados apenas nas suas impressões, que mudam com frequência, de acordo com os seus estados emocionais.

Se você perguntar para qualquer grande artista ou intelectual o que ele espera de um produtor cultural, certamente você ouvirá ele dizer que um produtor cultural

"deve ser comprometido"

"deve dar respostas rápidas"

"deve atender o telefone no primeiro toque"

"deve responder imediatamente todo e qualquer e-mail"

"deve ser flexível, se adaptar a tudo"

"deve gerar resultados"




Método


Minha experiência em grandes empresas, nacionais e multinacionais, acompanhando todas as modas que sucessivamente o mundo corporativo produziu sobre o "perfil ideal" de trabalhador, e há quase sete anos, como empreendedor no setor cultural, tem me ensinado que todas estas exigências, juntas, sem um método, sem planejamento detalhado da dosagem equilibrada, sem se pensar a particularidade de cada situação, somente levam a improdutividade, que gera desgaste das relações humanas construídas no trabalho e, por última instância, a perda de um recurso esgotável e não-renovável que o Universo nos brindou desde que nascemos: o nosso tempo de vida.

Falar em se trabalhar com método no novo mercado de trabalho do setor cultural que está se constituindo no Brasil, onde a maior parte dos contratantes não possuem formação em administração e gestão, pode parecer muita pretensão da minha parte. Digo isso comparando a questão com a minha outra profissão, que é de administrador. A maior parte dos empresários brasileiros (multinacionais não são assim) não possuem formação em administração. Gostam de dizer: "eu não sou administrador e administro o meu negócio. Estou neste ramo há 20 anos". Se a competição neste ramo for pouco agressiva, de fato, não há motivo em se querer investir em contratar pessoas com melhor formação. Mas os tempos são outros e querendo ou não o cenário ano a ano vem se tornando mais competitivo, o que vem mudando esta cultura. Muitos empresários já entendem que, gostando ou não, é melhor contratar alguém que estudou como trabalhar com método, do que alguém que é levado pelas suas emoções e aventuras empíricas.

Uma das maiores vantagens de se trabalhar com método é que ele permite que a gente monitore a variação de nossa própria subjetividade e consiga prosseguir até atingir um resultado.

Então, a minha pretensão é maior do que falar sobre a necessidade de se trabalhar com método. A minha pretensão é continuar construindo minha carreira de trabalho sempre pautada na busca de utilizar o método como ferramenta para conseguir cada vez mais realizar melhor uma ação cultural. E minhas viagens pelo Brasil tem me mostrado que não estou sozinho nessa. Muita gente como eu, que atua há poucos anos na produção cultural, vem pensando em diferentes cidades do Brasil: precisamos trabalhar com método.



Estes dias, li a matéria "O guru do Brasil" que fala da trajetória do consultor Vicente Falconi, citado pela revista Exame como o mais influente especialista do país em gestão de empresas e governos. Toda a matéria reforça a idéia que defendo: o método é essencial para o desenvolvimento de qualquer organização. Nos anos 90, quando trabalhei como assessor técnico de programas de qualidade, ISO 9000, etc, era uma novidade na indústria. Aos poucos, esta noção foi ganhando espaço no setor de serviços. De 1999 a 2001 vivenciei no dia a dia isso, trabalhando em uma empresa do ramo de telecomunicações recém instalada no Brasil por canadenses. Toda esta idéia de se trabalhar com método, para mim, é essencial e urgente para as organizações e os profissionais que atuam no setor cultural.


A leveza, a delicadeza, a capacidade de ouvir e gerar resposta do outro e priorizar para lidar com o excesso de atividades


Mas trabalhar somente com método não é tudo. As organizações militares trabalham com método e nem sempre as pessoas se sentem bem ou felizes com isso. Tenho convicção de que é preciso aliar ao método a leveza, a delicadeza, a capacidade de ouvir e gerar resposta do outro e priorizar para lidar com o excesso de atividades.

Para falar um pouco sobre isso, apresento aqui os vídeos feitos pelo site Nós da Comunicação com a escritora Heloisa Buarque de Hollanda.


Leveza e delicadeza



Capacidade de ouvir e gerar resposta do outro



Priorizar para lidar com o excesso de atividades


Algumas reflexões

Quais são as suas expectativas em relação aos arranjos de trabalho que você constitui? Você acredita que o melhor caminho é aceitar cegamente tudo para se manter no mercado? Já pensou que você também constrói o mercado?

Já pensou que muitas pessoas devem estar procurando pessoas organizadas, que trabalhem com método e que talvez o caminho seja dar mais visibilidade ao que você faz, estar mais disponível e acessível, para que estas pessoas encontrem você?

É possível, com estratégia, comunicação, disciplina, paciência e gratidão, mudar arranjos de trabalho rígidos, em relações baseadas na leveza, delicadeza e produtividade.

Exercite sua capacidade de ouvir e gerar resposta do outro.

Entenda como o excesso de atividades atrapalha sua qualidade de vida e a produtividade do seu trabalho.

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