domingo, dezembro 14, 2008

Música, ídolos e poder: do vinil ao download



Conteúdo extraído do site da Approach Gestão de Informação e do site de André Midani (www.midani.com.br)

Testemunha ocular do Dia D, desertor da Guerra da Argélia, confeiteiro em Paris, executivo da Odeon, Phonogram e WEA, pioneiro na iniciativa de análises qualitativas de mercado, negociador da libertação do publicitário Washington Olivetto. A autobiografia de André Midani é mais do que um depoimento de quem observa os bastidores do mercado musical brasileiro sob um ângulo privilegiado desde a década de 1950. Além de viver alguns dos grandes momentos da história, Midani participou ativamente do nascimento da Bossa Nova, da Tropicália e do rock nacional, dos grandes festivais de música e das fantásticas jogadas de marketing das gravadoras para projetar seus ídolos. Uma trajetória de vida riquíssima, de quem saiu do zero e chegou ao topo do mundo, narrada em detalhes no livro Música, ídolos e poder, que a Nova Fronteira lança em setembro.

No final da década de 1940, o jovem André Midani era confeiteiro em Paris, acostumado a pegar no batente às quatro da madrugada e carregar sacos de farinha nas costas. O açúcar e os ovos foram deixados de lado em uma noite fortuita, quando ele entrou num cinema e assistiu ao documentário Jammin’ the Blues. No dia seguinte, Midani saiu à procura de um emprego como vendedor de discos. Foi o primeiro passo na carreira do maior executivo da indústria musical brasileira. Seu destino de Midas do disco parecia já estar traçado, mas tudo aconteceu por acaso. Em 1955, André saiu da França para evitar a convocação para lutar na Guerra da Argélia e a América do Sul foi o continente escolhido. Na chegada ao Brasil, a sorte lhe sorriu: ao ser confundido com um executivo estrangeiro, conseguiu um emprego na Odeon.

A trajetória do self-made-man teve início com a descoberta dos futuros ídolos da Bossa Nova, ainda numa era dominada pelos cantores do rádio, como Francisco Alves, Aracy de Almeida e Dalva de Oliveira. Hoje consagrado, o novo gênero enfrentou grande oposição. Na primeira audição de “Chega de saudade”, o gerente de vendas da Odeon simplesmente jogou o acetato no chão e esbravejou: “Isso é música de veado!”

A segunda onda veio com a Tropicália e a MPB: Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, Elis Regina, Chico Buarque, Vinicius de Moraes — todos eles seriam contratados pelo então executivo da Companhia Brasileira de Discos, filial da Philips. Da década de 1970 em diante, Midani dividiu-se entre os festivais internacionais da canção e o rock nacional. Participou da organização de eventos como a Phono 73 e implementou a noite brasileira no Festival de Jazz de Montreux. Apostou nos Mutantes, em Rita Lee, em Erasmo Carlos e em Jorge Ben Jor. Foi criticado quando disse que o rock seria o futuro da música brasileira. Mas investiu nos Titãs, no Barão Vermelho, no Kid Abelha, no Ultraje a Rigor. E deu no que deu.

Esse executivo que passou 12 anos em Nova York, responsável por 14 companhias de disco no mundo hispânico, participou do lançamento de Luis Miguel e Alejandro Sanz. Mas o trabalho com os ídolos da música não era exatamente uma festa. Numa hora, era obrigado a descolar cocaína para Rod Stewart fazer uma festinha. Em outra, uma garota da Playboy para o tímido Prince. Entre uma gravação e outra, Midani ainda arrumou tempo para se casar com algumas das mulheres mais interessantes da época.

Nas páginas de sua autobiografia, este homem que conhece os meandros do negócio do disco desvenda as origens mafiosas do grupo Warner e a relação entre Mao Tsé-Tung e a pirataria de CDs. Aponta como a crescente dependência do jabá levou a indústria musical a um beco sem saída. E mostra o que acontece quando as gravadoras submetem os seus líderes criativos aos ditames traçados pelos tecnocratas do mercado.

Leia um trecho do livro

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