sábado, junho 28, 2008

Culturalmente, o Brasil está descobrindo a região Norte agora



Entrevista realizada com Daniel Zen, responsável pelo selo Catraia Records, por Fernando Rosa, publicada no site Senhor F.


Um sujeito tranqüilo, eloquënte em seus argumentos e, acima de tudo, muito claro em suas posições, Daniel Zen é um dos principais articuladores da cena independente do Norte do país.

É dele a iniciativa do selo Catraia Records, que lançou o primeiro EP da banda Los Porongas, uma das grandes revelações do novo rock nacional. E que, avançando em suas pretensões, montou um estúdio, segue produzindo e lançando singles, como os recentes das bandas Camundogs e Nicles.

A parceria do selo com a banda Los Porongas também resultou na afirmação do Festival Varadouro, em Rio Branco, como um dos eventos independente mais importantes da cena independente nacional.

Aqui, trazemos a sua opinião sobre os mais diversos temas relacionados à cena independente, que ele destrincha com a clareza de sempre. (Fernando Rosa)

Senhor F - A região Norte vem ocupando espaços cada vez mais relevantes na mídia do centro do país. Primeiro, foi a descoberta da "cena de Belém'", agora o Acre, com Los Porongas, o Festival Varadouro, que abriu o caminho... Na campanha eleitoral, o presidente Lula disse que "JK incorporou o Centro-Oeste ao Brasil" e que ele, no governo dele, iria "integrar a Amazônia ao Brasil". Como você vê essa nova situação, digamos, geo-cultural-musical da região?

Daniel Zen - O Brasil é um país, como de resto são os demais países, cujas atenções se voltam para os grandes centros urbanos os quais, em nosso caso, também se configuram como centros políticos e econômicos, em sua maioria, localizados no Centro-Sul. Nesse sentido, o que acontece em termos de manifestação cultural nas regiões mais afastadas dos grandes centros é deixado de lado ou visto como algo pitoresco, como curiosidade turística isolada ou algo assim. Acontece que a produção cultural-musical do país não é exclusividade dos centros urbanos, ela prolifera com força nos mais diversos lugares, das mais diferentes maneiras, com uma multiplicidade de nuances, matizes, coloridos, fatores e variáveis quase que indescritível. Guardadas as devidas proporções, acredito que a região Norte esteja na iminência de passar por um processo de “descoberta” semelhante ao que já aconteceu com o Nordeste, nos tempos da Tropicália, do Cinema Novo e, mais recentemente, com o axé, o mangue beat, as micaretas e por aí vai. Culturalmente, o Brasil está começando a descobrir a região Norte agora e isso não está dissociado de outros fatores: a região tem apresentado alguns nomes de peso, que começam a ganhar expressão nacional; os indicadores econômicos e sociais também têm melhorado aos poucos com o passar dos anos. Tudo faz parte de um processo em que todos os fatores estão interligados, não há nada isolado.

Senhor F - Nos anos setenta, os mineiros, os baianos e, depois, os nordestinos imprimiram sua marca ao universo da música popular jovem brasileira. Agora, é a vez do Norte? Já existe uma produção madura para tal? A breve incursão nacional dos Porongas parece demonstrar que existem pessoas dispostas a ouvir de ouvidos e coração abertos à música do Norte. Como você está vendo este processo?

Daniel Zen - Não acredito que tenhamos algo que possa se intitular de um novo “movimento cultural-musical” tal qual foi o Clube da Esquina ou a Tropicália, ao menos não consigo visualizar isso com clareza. Até mesmo porque a região Norte é imensa geograficamente e diversa culturalmente. Nós, aqui de Rio Branco, temos uma relação mais próxima com Brasília, por exemplo, do que com Belém do Pará. Por isso, falar em termos regionais é um tanto quanto complexo, há muitas diferenças e pouco intercâmbio entre os Estados, o que tem mudado, mas ainda é um processo em curso. Mas, certamente, há várias movimentações, diversos cenários interessantes e que vêm se descortinando para o resto do país, e para o próprio Norte, de uns poucos anos pra cá. A incursão dos Porongas, a imensa e multi-diversa cena musical de Belém e o Festival Varadouro aqui de Rio Branco são bons exemplos disso, mas há bem mais coisas e isso pra falar só em música. Se formos falar de outros manifestações artísticas e culturais (teatro, artesanato, cinema) aí, certamente, o norte tem e terá muito a oferecer aos curiosos, atentos e dispostos a sacar o que ele tem de bom.

Leia entrevista na íntegra

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