quarta-feira, abril 20, 2011
A falta de espaço é causada pela falta de pessoas
Imagem da matéria "Na base do improviso" de Rafael Bento publicada na revista Veja Rio nº 29
Por Alê Barreto*
alebarreto@gmail.com
Vejamos um bom exemplo de necessidade de desenvolvimento de pessoas para trabalhar com administração, produção e gestão de atividades de arte, comunicação, cultura e entretenimento.
Quando morava em Porto Alegre, vivenciei a dificuldade de se encontrar "espaço" para espetáculos. No início, pensava comigo: "deve ser porque não sou ainda muito conhecido ou porque os artistas não estão na mídia". Com o tempo, vi que a questão é bem mais complexa. E não acontece só em Porto Alegre. Acontece em Salvador, em São Paulo, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte, Rio Branco. Creio que acontece na maior parte das cidades brasileiras.
Vejamos um exemplo aqui do Rio de Janeiro. Ano passado, Rafael Bento Sé publicou o texto "Na base do improviso" na revista Veja Rio nº 29. Nesta matéria, expressou sua preocupação com o fechamento de espaços para shows de médio porte e com a falta de investimento em novos espaços para shows.
Na busca de encontrar as razões para isso, provocou a reflexão escrevendo que "a resposta aponta para várias direções".
Meia entrada
Uma das direções apontadas por ele foi que a meia-entrada teria tornado a arrecadação de bilheteria uma incógnita e isso poderia estar assustando os empresários.
Custo operacional
Segundo Rafael Bento Sé, espaços medianos têm despesa bem maior que a dos barzinhos e não possuem faturamento garantido como grandes casas do ramo.
Preço dos imóveis
A supervalorização dos imóveis com a aproximação da Copa do Mundo e da Olimpíada pode estar espantando muitos empresários.
Plano Diretor da Cidade do Rio de Janeiro
Rafael diz que o atual Plano Diretor da cidade foi criado na década de 70 e restringe o uso de diversas áreas da cidade para essa finalidade.
Achei muito construtivo um jornalista utilizar um revista de grande tiragem semanal para levantar estas questões.
Poderíamos estar olhando também a questão de falta de espaço como a necessidade de desenvolvimento de pessoas. Pessoas que saibam analisar as questões apontadas por Rafael em sua matéria (leia ela na íntegra) e outras questões que relaciono abaixo:
- infraestrutura para empreendimentos artísticos: o que precisa existir para se estimular a atração de investimentos? Que áreas da cidade necessitam melhor pavimentação, iluminação pública, segurança, mobilidade (mais linhas de ônibus, táxi...) e rede de serviços diversos (alimentação, estacionamento, etc.)? Um estudo realizado por pessoas tecnicamente qualificadas pode ser um ponto de partida para discussão do assunto com o poder público e associações de empresários.
- consumo cultural (demanda): quais as demandas atuais, potenciais e que podem ser estimuladas para o consumo de espetáculos e apresentações artísticas? Uma pesquisa apresentando os diferentes nichos de consumo cultural pode ser um ponto de partida para estímulo de empreendimentos. Sugere-se que a pesquisa seja feita por uma equipe multidisciplinar, contando, de preferência, com a participação de economistas, sociólogos, antropólogos, administradores, geógrafos, psicólogos, especialistas em marketing e comunicação.
- desenvolvimento do território: quais são os planos para promoção do desenvolvimento da cidade? A abertura do diálogo com a Secretaria Extraordinária de Desenvolvimento (SEDE) pode proporcionar um planejamento do fomento para novos investimentos em espaços artísticos concatenados com as questões de planejamento urbano da cidade.
- articulação de empreendimentos culturais: como fortalecer iniciativas culturais independentes como festas, shows, mostras? Como estimular que empreendimentos culturais se consolidem?
- gestão de espaços: como dar vida a espaços que podem ser utilizados para arte, comunicação, cultura e entretenimento? Como ativar os que estão parados? Como aumentar sua ocupação? Como gerenciar uma oferta de programação que atenda os hábitos de consumo cultural das pessoas mas que também estimule a diversidade cultural? Como articular o uso dos espaços culturais como estímulo para novos empreendimentos culturais?
Na minha opinião, se está faltando espaço, o motivo principal é que estão faltando pessoas capacitadas para lidar com estas questões. Público eu tenho certeza que não falta, tanto no Rio como em muitas outras cidades brasileiras.
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* Alê Barreto é um administrador e produtor cultural independente. Trabalha com foco na organização e qualificação dos profissionais de arte, comunicação, cultura e entretenimento. É autor do livro Aprenda a Organizar um Show, primeira publicação livre e gratuita no Brasil sobre a tecnologia de produção de shows, escreve para o site Overmundo e para a revista Fazer e Vender Cultura.
Ministra cursos, oficinas, workshops e palestras. Já atuou em capacitação de grupos culturais em parceria com o SEBRAE AC. Presta consultoria e assessoria para artistas, empresas e produtores.
Contato: (21) 7627-0690 Rio de Janeiro - RJ - Brasil
Alê Barreto é cliente do Itaú.
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