domingo, setembro 26, 2010

Terceiro dia do "Seminário Internacional Políticas Culturais: teorias e práxis" na Fundação Casa de Rui Barbosa no Rio de Janeiro

Abertura Seminário 2010 from Helena Klang on Vimeo.


Vídeo de Helena Klang sobre o Seminário de Políticas Culturais


Por Alê Barreto*


Sexta passada foi o terceiro dia do Seminário Internacional Políticas Culturais: teorias e práxis da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB). Dei um jeito de resolver minhas atividades profissionais pela manhã para poder assistir integralmente toda a programação da tarde.

Além das novidades que comentei no post anterior, ontem cada participante recebeu dois livros: "Políticas Culturais: reflexões sobre gestão, processos participativos e desenvolvimento" (seminário do ano passado) e "Percepções: cinco questões sobre políticas culturais", publicação com artigos com análises sobre pontos complexos que desafiam a formulação e a gestão de políticas culturais no Brasil contemporâneo.

A primeira conferência foi "Um território híbrido na Maré, RJ: novo território cultural?". Lilian Fessler Vaz mostrou uma análise sobre a Maré (região da periferia do Rio) a partir dos conceitos de hibridação (Nestor Canclini), espaços opacos (Milton Santos) e de espaços de resistência (J. Holston). Fiquei muito interessado em conhecer o Museu da Maré, o Centro de Artes e Cultura Popular da Maré (Quilombo das Artes) e o Grupo de Capoeira Angola Ypiranga de Pastinha coordenado pelo Mestre Manoel.

Uma frase me chamou muito a atenção:

"O pensamento modernista, racionalista, funcionalista tende a privilegiar a divisão e a especialização dos espaços e a rejeitar a mistura de usos e atividades".


A segunda conferência foi "Participação: para pensar políticas culturais no século XXI". Lúcia Maciel Barbosa de Oliveira apresentou um interessante relato sobre ações culturais que estão acontecendo no Centro Cultural da Juventude, equipamento cultural público situado na cidade de São Paulo. Lá estão sendo desenvolvidos dez programas e mais de trinta projetos. A característica marcante é que neste espaço se busca que as pessoas ampliem o seu repertório e sejam também produtoras de cultura. Anotei algumas ações que são desenvolvidas neste espaço: workshop de produção musical com DJ Nato_PK, oficinas de captura e edição final em Final Cut, história em quadrinhos, edição de fotografias como processo criativo, workshop de story board e design para animação, Lady Fest (feminismo jovem radical), mostra de cinema árabe, concurso Drag Contest, semana temática de artes visuais. Tem muito mais do que isso.

A terceira conferência foi "La Fundación Fahrenheit 451: la experiencia de descentralizar la cultura". Nesta apresentação, Sergio Gama mostrou que um trabalho de promoção da leitura e da escrita com jovens de baixa renda na região de Usaquén em Bogotá deu origem a um Festival de Literatura, graças a persistência e um trabalho organizado de articulação com uma rede de 20 bibliotecas, o projeto Poesía Sin Fronteras, Universidades e outros parceiros.

A quarta conferência foi "Pontos de Cultura: pontos para a cidadania e suas territorialidades?", no qual Alba Lúcia da Silva Marinho falou de sua pesquisa sobre Pontos de Cultura na qual buscou entender a prática desta política cultural junto aos grupos e comunidades onde estão inseridos.

A quinta conferência foi "Políticas Culturales y salvaguardia del patrimonio inmaterial en América Latina: enfoques, estrategias y perspectivas". Nela, Loreto Antonia Bravo, consultora em políticas públicas sociais e culturais, iniciou fazendo uma menção as estratégias que permitiram que o movimento das mulheres se fortalecesse em escala mundial: desenvolvimento do ativismo, articulação com políticos e acadêmicos. Com base nisso, projetou cenários para o desenvolvimento das questões relacionadas ao patrimônio imaterial na América Latina, inseridos no contexto dos Direitos Humanos.

A sexta conferência foi "Políticas culturales, democracia y governabilidad: el aporte del patrimonio inmaterial". Eduardo Nivón Bolán, professor da Universidade Autônoma Metropolitana do México, fez um retrospecto histórico do conceito de políticas culturais ao longo da história e fez uma série de observações importantes. Anotei duas: "até 1945 ninguém falava em políticas culturais no mundo" e "ao se falar em políticas culturais e patrimônio imaterial necessitamos refletir sobre as informações contidas no Relatório McBride (também conhecido como "Vozes Múltiplas, Um Sozinho Mundo", documento da Unesco publicado em 1980 e redigido por uma comissão presidida pelo irlandês Seán MacBride, ganhador do prêmio Nobel da Paz)".

Um dos momentos que mais despertou minha atenção foi a hora em que Eduardo citou que no funeral da Frida Kahlo colocaram sobre seu corpo a bandeira do México e a bandeira do partido comunista e que o mesmo fizeram no enterro do escritor Carlos Monsiváis: colocaram sobre ele a bandeira do movimento gay. Ele quis ressaltar com a citação destes fatos a relação existente entre cultura e movimentos sociais.

Por fim, a última conferência do dia foi "Avaliando as políticas culturais do governo Lula". Em sua apresentação, o professor Albino Rubim explicou que está começando uma pesquisa financiada pelo CNPq intitulada "Políticas Culturais no Governo Lula", que ocorrerá no período de 2010 a 2015. Com muito critério, Rubim mostrou os critérios que estão sendo utilizados nesta pesquisa: definição e delimitação do tema, noções envolvidas (política, cultura e políticas culturais), a abrangência, momentos do fazer cultural, complexidade, modalidade do que será analisado, espacialidade, temporalidade, distanciamento e envolvimento.

A independência, a transparência e a ética são preocupações do pesquisador na condução deste trabalho. Segundo ele, o fato de ter uma ligação com o PT não o impede de analisar criticamente ações no campo de políticas culturais que considere que tenham sido equivocadas."O papel da universidade é questionar", afirmou o professor.

Dando sequência, Albino Rubim falou das fragilidades a que está sujeita a pesquisa, da carência de dados e dos parãmetros escolhidos para a análise: enfrentamento de três tradições (tradição das ausências, tradição do autoritarismo e tradição da instabilidade).

Rubim apontou avanços e dificuldades na gestão do Ministério da Cultura dos últimos oito anos, mas encerrou sua fala da seguinte maneira: "desde sua criação em 1985, agora realmente inauguramos um Ministério da Cultura no Brasil".

De minha parte, concordo com o professor Albino: estamos avançando na organização do setor cultural no Brasil.

Quem quiser acessar mais conteúdos sobre o seminário, só acessar o blog

http://culturadigital.br/politicaculturalcasaderuibarbosa


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* Alê Barreto é administrador, produtor cultural e autor do livro Aprenda a Organizar um Show, primeira publicação disponibilizada de forma livre e gratuita no Brasil sobre a tecnologia de produção de shows. Trabalha novos conceitos e oferece serviços diferenciados para empresas, produtores, grupos culturais e artistas. Divulga reflexões sobre seu processo de trabalho no blog Alê Barreto e valoriza encantadoras mulheres.

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