domingo, agosto 10, 2008

A representação das favelas no imaginário social e a "atualização" do "mito da marginalidade"


A. F. Rodrigues / Imagens do Povo


Artigo de Fernando Lannes Fernandes, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia/UFRJ, publicado originalmente no site do Observatório de Favelas


O espaço urbano possui uma unidade contraditória, composta pela distinção entre as classes sociais, expressa na organização do espaço. A produção do espaço urbano no contexto capitalista inclui processos espaciais dos quais a segregação é o que mais evidencia as desigualdades sociais e a estruturação de classes.

Na sociedade capitalista – onde o acesso a bens ocorre pela via do consumo – a renda torna-se fator relevante no que tange à distribuição da população na cidade. A habitação é uma mercadoria que se vincula não apenas à sua qualidade material, mas também à sua localização no espaço da cidade. Isso significa que o acesso à renda é determinante para segregação residencial, muito embora outras variáveis, como raça, etnia e religião, também possam influir nesse processo, a depender do contexto sócio-espacial.


Elementos marginais

Na medida em que a renda é uma expressão das relações de classe, verifica-se que a segregação, enquanto resultado da produção capitalista do espaço urbano, é uma manifestação espacial da própria estruturação de classes. Portanto, a diferenciação residencial ocorre nos termos da reprodução das relações sociais, visto que se liga à capacidade de se pagar pela residência. Se a renda interfere na localização, isso acaba por influir, também, no acesso a equipamentos e recursos, que não estão distribuídos eqüitativamente no interior da cidade. Em contrapartida, a diferenciação social produz comunidades distintas, cuja singularidade reflete-se em valores próprios, construídos a partir da maneira com que os indivíduos enfrentam sua realidade. Isso significa que as áreas residenciais formam meios distintos para a interação social.

Os setores dominantes apóiam-se na construção de representações sociais sobre as favelas e seus moradores, incutindo no imaginário social coletivo a idéia que na favela vive a bandidagem e a malandragem, em um suposto contexto de desordem social.

Esses “elementos marginais” viveriam, de acordo com essa imagem construída sobre eles, em condições insalubres de moradia, em favelas que prejudicam e enfeiam a paisagem urbana. Os moradores das favelas são vistos, ainda, como “parasitas” que sugam recursos públicos sem dar retorno, ocupando áreas que poderiam ser utilizadas para fins mais lucrativos e funcionais. A solução apresentada é a erradicação das favelas.


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