terça-feira, maio 12, 2015

Uma presença digital saudável pode contribuir para uma atividade de produção com mais qualidade de vida




Por Alê Barreto
alebarreto@gmail.com


Era outubro de 2010. Estava em Brasília, ministrando pela primeira vez o curso "
Construa sua presença digital saudável”, no Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília (CDT/UnB). Naquele momento, o discurso sobre as novas tecnologias era praticamente o mesmo de agora: você deve ficar online o tempo todo. A ideia era trocar informações sobre o uso das novas tecnologias, a partir de algumas experiências minhas no uso das mesmas. Mesmo tendo assistido o nascimento das tecnologias intermediárias ainda em uso (Cd, DVD, telefone celular, e-mail), mesmo tendo sido testemunha do surgimento do gmail, novas facilidades como uso de mensagem de texto, tecnologia amplamente utilizada no celular, no Skype, no Google, Whatsapp, etc, percebi já naquela época (estou falando de 5 anos atrás...) que de alguma forma a falta de atenção com a adoção das novas tecnologias em nossa vida estava nos fazendo inverter o raciocínio: invés das novas tecnologias estarem a nosso serviço, éramos nós que estávamos ficando a serviço delas.

Quando falei do tema, pela primeira vez, algumas pessoas entenderam, outras olharam meio desconfiadas. "Quem esse cara estava pensando que é para dizer para ir com calma com estas novas tecnologias"? 

Falar de mudanças tecnológicas é delicado. Podemos às vezes nos colocar como "contra" ou como "a favor". Sendo 100% contra, corremos o risco de querer fazer com o que o tempo volte para atrás e isso não é possível. As novas tecnologias vieram para ficar. Sendo 100% a favor, corremos o risco de simplesmente incluir mais atividades que ocupam o nosso tempo de vida, com o discurso de "ganharmos tempo" ou "sermos mais produtivos". E corremos o risco de piorar nossa qualidade de vida.

Falei ainda sobre este assunto numa aula que dei em 2011 na SP Escola de Teatro (SP) e depois numa palestra que ministrei na Semana Acadêmica da Comunicação na UNISC em Santa Cruz do Sul (RS). Novamente, nestas duas ocasiões, sempre haviam pessoas que ficavam um pouco céticas com relação a ideia de se utilizar as novas tecnologias sem precisar "ficar online o tempo todo".

Eu segui pesquisando o tema. E pouco a pouco fui percebendo que esta minha percepção sobre a forma de uso das novas tecnologias, não era só minha. Venho então reunindo uma coletânea de materiais para aprofundar mais esta reflexão. Um exemplo disso: veja a matéria "Você é escravo do celular?" publicada na revista Época em junho de 2012.

Lembrei de chamar a atenção para este assunto, pois ele parece que está se tornando pauta obrigatória na mídia. A preocupação com o "exagero" na forma do uso das novas tecnologias aparece este mês na revista Vida Simples, que traz uma entrevista com David Baker, ex-editor da edição britânica da revista de tecnologia Wired, no qual ele propõe "vivermos momentos de desconexão".

Concordo com David. Ninguém precisa abandonar a tecnologia. Mas aprender a utilizá-la é fundamental. Ligar e desligar um aparelho não significa que sabemos utilizá-lo, assim como tirar carteira de motorista não significa que você dirige da melhor forma. Ter, ligar e desligar um aparelho significa apenas que você tem a possibilidade de usá-lo bem, assim como ter uma carteira de motorista significa que você tem a permissão legal para exercer bem o seu direito de dirigir. Se vai dirigir bem, aí são outros quinhentos.


Dê uma pensada nisso. Será que não está na hora de construir sua presença digital saudável? Vale a pena ficar tenso quando acaba a bateria do celular ou quando você fica sem o sinal de uma rede Wifi? Vale a pena correr de zero a cem quando ouve um toque do seu smartphone? Vale a pena ser obrigado a sempre tirar foto de tudo e ter que mostrar para todo mundo, para pessoas que nem conhece, imagens das suas experiências de vida? Vale a pena ter que ficar combinando e descombinando suas atividades o dia inteiro, só porque existe a possibilidade de poder se comunicar o tempo todo?



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Alexandre Barreto é administrador, consultor e palestrante. Criador da marca e blog "Produtor Independente", desde 2006 inspira artistas, produtores e empreendedores no Brasil. Administrador pela Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (EAD/UFRGS) e MBA em Gestão Cultural pela Universidade Cândido Mendes (RJ) e Associação Brasileira de Gestão Cultural. É autor dos livros Aprenda a Organizar um Show e Carreira Artística e Criativa Saiba mais

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