quarta-feira, março 19, 2014

Você não é velho. A internet é que é nova.




Por Alê Barreto *
alebarreto@gmail.com


Sabe quem é este senhor na foto e o que significa o mapa que ele está apontando? O nome dele é John Postel, o cientista que nos anos 90, sozinho, mantinha os registros de endereços da internet. Aprendi isso no programa Navegador no qual o Ronaldo Lemos falou sobre os 25 anos da internet. Imagine o quanto isso multiplicou nos últimos anos.

A chegada dos 25 anos da internet é importante para várias reflexões. Uma delas é sobre a sensação de se sentir perdido, defasado ou atrasado, devido ao contato diário com um número cada vez maior de informações.

Me desculpem os estudiosos das gerações y, x, z, w e tantos outros nomes que tem surgido para denominar quem nasceu ou foi criança numa época em que já existia internet e que colocam esse "fenômeno" de viver de forma multimídia de forma amplificada. De fato, são diferentes de mim, que tenho 42 anos. De fato, são diferentes de pessoas que tem mais idade. Mas ninguém sofreu uma "mutação genética" tão grande nos últimos 25 anos. As mulheres existem há milhares de anos e sempre foram multimídias, sempre fizeram várias coisas ao mesmo tempo e continuam fazendo (melhor inclusive do que os homens). Logo, acho que vale pensar que os discursos prontos de que "quem não está na internet está morto", "a rede é tudo", "temos que estar conectados o dia inteiro e o tempo todo", não é bem assim. Muita gente vem embarcando nessa onda por medo de parecer que está ficando "velho". Além de não ficar mais novo, pois biologicamente continua envelhecendo, perde muita qualidade de vida.


Antes de mais nada, acho que vale lembrar que a internet é um recurso. Pode ser o principal recurso para muita gente. Mas ainda assim, é um recurso. E um recurso é um meio que serve para alcançar um ou mais fins.

Esta distinção é muito importante. Em 2010 comecei a falar sobre isso no curso "Presença Digital Saudável", que ministrei na Incubadora de Arte e Cultura do Centro de Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília (DF) e em 2011 na SP Escola de Teatro (SP) e na Semana Acadêmica da Comunicação Social da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC/RS).

No meio de produção, muitas vezes este estado "online" é até prejudicial. Saber que a qualquer momento você pode acessar alguém, vai facilitando o hábito de deixar para depois ou para o último instante. Isso tem feito muitos produtores novos estarem desenvolvendo o trabalho de forma muito improdutiva. Perguntam várias vezes as mesmas coisas, checam várias vezes informações que já foram checadas. E cometem muitos erros por estarem o dia todo, de alguma forma, batendo papo nas redes sociais.

Atividades de produção, principalmente de leitura e checagem de informação, necessitam atenção. Sobre isso, leia também o artigo "A internet e o déficit de atenção" publicado no Estadão.

O crescimento da rede da internet é um bom exemplo do que acontece com o trabalho de produção. No início, somos que nem o cientista John Postel. Conseguimos controlar tudo. Mas na medida que vamos fazendo diferentes trabalhos, com diferentes pessoas, em diferentes projetos, começamos a não dar mais conta de tudo. No caso do cientista, a sua função de controlar os endereços da internet deixou de ser feita somente por ele e passou a ser feita pela ICANN, uma instituição americana. No nosso caso, na medida que os trabalhos de produção e demais serviços relacionados vão ficando complexos, vamos tendo que criar parcerias, constituir uma empresa, nos associarmos a mais pessoas para dar conta.

Mesmo assim, há um limite natural. Ninguém vai ficar expandindo, expandindo, expandindo. Então é fundamental a gente incluir uns minutinhos de pausa no dia a dia, para enxergar melhor a direção para onde estamos indo.

Pode usar à vontade a internet, mas lembre-se: você não é velho. A internet é que é nova.





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Alexandre Barreto, mais conhecido como “Alê Barreto”, é um profissional multifuncional. Administrador de empresas, gestor de pessoas, gerente de projetos, produtor executivo, consultor, criador de conteúdo, professor e palestrante. 
Atualmente é um dos gestores do Grupo Nós do Morro no Rio de Janeiro (RJ) juntamente com a cineasta e roteirista Luciana Bezerra e está em fase de conclusão do MBA em Gestão Cultural na Universidade Cândido Mendes (RJ). Sua monografia é sobre carreira artística e criativa e conta com a orientação da consultora Eliane Costa.   Leia mais

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