segunda-feira, dezembro 09, 2013

Alunos da escola Adolpho Bloch produzem a "Mostra Cinematográfica 100 anos de Mazzaropi” e dão aula de produção cultural






Por Alê Barreto *
alebarreto@gmail.com


Em 18 de julho de 2007 publiquei no portal colaborativo Overmundo um de meus primeiros textos. Chama-se “Vamos educar pessoas para a produção cultural?

É um texto simples. Acredito que a linguagem simples permite maior democratização e acesso. Permite que boas ideias cheguem mais longe e estimulem mais pessoas.

No final deste texto, sugiro que as pessoas envolvidas com criação e produção, mais especificamente com os setores criativos, se articulem em cada cidade do país para que sejam criados cursos técnicos (nível médio) e cursos de graduação em produção cultural.

Para mim, esta é uma forma importante de se estruturar melhor a difusão deste importante conhecimento.

Precisamos parar de achar que o ideal é somente solicitar recursos para o Estado para financiar “projetos culturais”, “projetos de transformação social”, “projetos de reinvenção”.


Projetos são ações que tem início, meio e fim. Além disso, no Brasil, a maior parte dos projetos nos setores criativos são muito mal gerenciados. Pessoas com alguma preparação ou sem preparação nenhuma preocupam-se apenas com a comunicação, com a visibilidade destas ações e com procedimentos de prestação de contas. Há uma falta de atenção muito grande com:

- a gestão de pessoas;
- gerenciamento dos processos;
- método para realização;
- estímulo a inovação;
- a qualidade da execução.

Defendo a criação de cursos de nível médio e graduação porque um curso dentro de uma escola, dentro de uma universidade, tem maior sustentabilidade, e por conseqüência, continuidade. A continuidade permite o aprimoramento da qualidade do ensino. Quem defende que o Estado deve financiar cada vez mais projetos culturais, projetos para jovens de periferia, pontos de cultura, deveria se preocupar em mobilizar o Poder Público e a iniciativa privada para que o ensino relacionado a produção cultural também faça parte do dia a dia das escolas públicas brasileiras.

Um exemplo do que estou falando foi a “Mostra Cinematográfica 100 anos de Mazzaropi” realizada por Lucas Daher e seus colegas, alunos do 3º de produção cultural no Colégio Estadual Adolpho Bloch, da rede Faetec, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Uma ação cultural com alta qualidade feita por jovens com 16 anos.

Assisti o vídeo com a reportagem e aprendi muito. O trabalho destes jovens, de toda equipe do curso de produção cultural e da escola serve de inspiração para muitos alunos de graduação, pós-graduação e produtores diplomados. Quem tiver humildade, poderá aprender muito com esta experiência. Segue o que aprendi olhando o vídeo.

A primeira lição é que o discurso de que os jovens de hoje estão somente atentos para tecnologia e entretenimento (que para mim são novas formas de cultura) e que isso cria a necessidade de se levar ações relacionadas a memória para estas novas gerações. Não é bem assim. Muitos jovens estão aproveitando as novas tecnologias de informação e comunicação para ações de preservação da memória artística e cultural.


Lucas, por iniciativa própria, conheceu a obra de Mazzaropi, percebeu sua importância e preocupou-se que o centenário de seu nascimento não estava sendo lembrado. Para quem não sabe, Amácio Mazzaropi foi ator de teatro, trabalhou no rádio, participou do início da televisão e lançou seu primeiro filme em 1952 com a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, o mais importante estúdio de cinema do Brasil na década de 1950.

A segunda lição foi a capacidade de pesquisar. Ao longo de 5 meses, os alunos conseguiram reunir todos os filmes de Mazzaropi que ainda restam em película.

A terceira lição foi a capacidade de articular parcerias para circulação da mostra e ocupação de espaços.

A coordenadora do curso técnico de produção cultural em eventos da FAETEC, Kelly Santos, explicou que foi realizada uma parceria institucional, de cooperação técnica, com a Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, a qual possibilitou que os alunos exercem o que aprenderam no curso.

A quarta lição: os alunos descobriram por si mesmos o seu potencial de realização.

Isso é uma das coisas que acho fundamentais para os produtores: descobrir que é possível realizar. Não se sentir “refém” de discursos de miséria, de que cultura é difícil no Brasil, de que na escola pública tudo é difícil, que na favela tudo é difícil, de que sempre é preciso primeiro financiamento de projeto para que as coisas aconteçam. Descobrir que é possível realizar é um grande passo rumo ao empreendedorismo.

A satisfação dos alunos foi muito grande. Eduardo Mateus Vicente afirmou: “para nós que estamos terminando o terceiro ano, foi excelente, foi uma experiência de ver como é o mundo lá fora, como é produzir fora do colégio”. Igor Bahia ficou feliz com pionerismo da ação e com a conquista dos espaços culturais: “foi o primeiro projeto a sair da escola e de total iniciativa dos alunos. O que a gente conseguiu mostrar foi que o aluno de escola pública por mais que não tenha todo o apoio, ele chega e consegue fazer e ocupar lugares que antes ele não ocupava”.

A quinta lição foi o aprendizado da curadoria. É comum produtores arrogantes, que poucas vezes pisaram numa escola pública, numa periferia, que raras vezes trabalharam com jovens, considerá-los “crianças”, “bebês”, "ingênuos", sem capacidade para definir conteúdos de seu interesse.

Os alunos da Faetec tiveram um cuidado de escolher para a abertura da mostra o filme “Tapete Vermelho”, uma homenagem a Mazzaropi produzida em 2006 e estrelada por Matheus Nachtergaele.

A sexta lição foi que os alunos produtores além das exibições, também promoveram debate sobre a obra do Mazzaropi.


Seria muito interessante se os alunos escrevessem e publicassem em maiores detalhes toda a sua experiência.

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[Sobre as postagens no blog em dezembro 2013]

Amigos, vocês devem ter notado que dei uma pausa nas postagens de conteúdos e dicas no blog. O mesmo ocorreu nas redes sociais.

Em função do excesso de atividades no trabalho e a urgência de concluir a minha pós-graduação, esta pausa poderá continuar até a entrega da monografia.

Enquanto isso:

- se você está procurando informações sobre o que é produção cultural, o que é um produtor cultural, o que faz um produtor cultural, quais são as áreas de atuação, e outras informações relacionadas a estes temas, acesse o "Pequeno Guia do Estudante e de Qualificação Profissional" http://produtorindependente.blogspot.com.br/2013/03/o-que-e-producao-cultural-o-que-faz-um.html

- se você está buscando informações para melhorar sua sustentabilidade, leia o "Roteiro de articulação, mobilização e captação de recursos: quais são as minhas necessidades"
http://produtorindependente.blogspot.com.br/2013/08/roteiro-de-articulacao-mobilizacao-e.html

- se está buscando conteúdos sobre arte, comunicação, cultura, entretenimento, gestão e produção cultural, executiva e de eventos, pesquisa na barra lateral direita do blog.


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Alexandre Barreto, mais conhecido como “Alê Barreto”, criador do blog, da marca e do programa "Produtor Cultural Independente", é um profissional multifuncional. Administrador de empresas, gestor cultural, gestor de pessoas, gerente de projetos, produtor executivo, consultor, criador de conteúdo, professor e palestrante. Seu trabalho pioneiro de disseminação de informações no blog e livro "Aprenda a Organizar um Show" têm inspirado pessoas que produzem ações culturais, artísticas e de economia criativa no Brasil.

Rio de Janeiro (21) 9 7627 0690/ Porto Alegre (51) 9473-1561 alebarreto@gmail.com

Atualmente é um dos gestores do Grupo Nós do Morro no Rio de Janeiro. Concluiu o curso MBA em Gestão Cultural na Universidade Cândido Mendes (RJ) e está finalizando sua monografia sobre carreira artística com a orientação da consultora Eliane Costa.

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