sexta-feira, abril 27, 2012

Sugestões práticas para a criação de um sistema cultural mais desenvolvido


Por Alê Barreto*
alebarreto@gmail.com


Enquanto preparava a aula que ministrei quarta-feira passada em Goiânia na Semana de Gestão e Políticas Culturais em Goiânia, promovida pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult Goiás) e Observatório Itaú Cultural (muito obrigado a todos e ao carinho da comunidade cultural de Goiânia), fiquei sabendo dos problemas ocorridos no festival Metal Open Air no Maranhão (ver vídeo acima). Parei para refletir.

A cada dia a tecnologia de produção torna-se mais acessível. Isso passa uma impressão de que "já está tudo pronto", "qualquer um faz", "se aprende do dia para noite". Mas na prática, não é bem assim.

Mudanças no mundo do trabalho necessitam reflexão, formação e prática. 

Em 2003, quando comecei a atuar na produção de shows, a atividade de produção já tinha a fama de ser uma atividade cheia de riscos, onde aconteciam os maiores imprevistos e absurdos e que por isso o produtor deveria saber tudo, aceitar tudo e resolver tudo. Eu nunca concordei com isso. E tenho certeza que muita gente não concorda. Mas os problemas, infelizmente, continuam. E isso tem muitas causas.

Para mim, os problemas continuam pela falta de ação. 

Entendo que para quem atua todos os dias em shows e eventos, é muito difícil escapar do labirinto massacrante das rotinas estressantes de produção. Já vivi isso. Sei o que é trabalhar sem folga mais de 12 horas por dia, mês após mês.

O que não entendo é porque é tão difícil para muitas pessoas no setor cultural e artístico, tanto da esfera pública, como da iniciativa privada e Terceiro Setor, fazer alguma coisa. Uma empresa ou órgão público tem muitos entraves burocráticos. Mas uma pessoa física tem agilidade.

Para contribuir, não precisa muita assembléia, carta de princípios, audiência pública, logomarca, debate. Precisa ação. Enquanto alguns coletivos Brasil afora se colocam como "referências" de protagonismo da juventude, como exemplos de mobilização independente, como uma alternativa para circulação de bandas, eu venho há anos fazendo a minha parte. Faço o que está ao meu alcance. E quanto mais faço, mais percebo que sou capaz de fazer.

Convido você a fazer a sua parte também. Se quer fazer isso dentro de um coletivo, ótimo. Mas faça. Pare de fazer milhares de reuniões que só servem para cansar, bater papo e você se sentir um militante da liberdade. Quer ser livre? Faça algo concreto. Quer liberdade para o mundo, para a cultura? Batalhe com fatos concretos pela liberdade dos outros.


Sugestões práticas para a criação de um sistema cultural mais desenvolvido:

divulgue experiências que transformam realidades (exemplo: em 2009 dei um depoimento sobre o trabalho do Grupo Nós do Morro para "O Rosto no Espelho" (Brasil, 2009), 




um documentário de Renato Tapajós que investiga a relação entre os movimentos culturais de hoje e a transformação social.



- escreva e compartilhe suas ideias (exemplo: escrevo neste blog, escrevo para a revista Fazer e Vender Cultura e publiquei artigos no portal colaborativo Overmundo. 




Um deles, o texto "Vamos educar pessoas para a produção cultural?", foi publicado também no Guia Brasileiro do Mercado da Música 2008/2009 do Instituto Totem Cultural.



compartilhe o seu método de trabalho (exemplo: em 2007, publiquei o livro "Aprenda a Organizar um Show" no portal colaborativo Overmundo. 




O livro já teve 19553 downloads e continua disponível de forma gratuita).




- contrate pessoas utilizando critérios (exemplo: ver o capítulo "Equipe" do meu livro "Aprenda a Organizar um Show");


- participe de ações que buscam melhorar a qualificação das pessoas que atuam no mercado (exemplo: participei das ações da 





Rede Acreana de Cultura em 2009 e 2010. Faça download da cartilha e conheça este trabalho).

- crie ações permanentes de formação para inserir as noções de prevenção, método, planejamento, administração e qualidade no setor cultural, artístico, criativo e de entretenimento (exemplo: em 2009 criei o curso "Aprenda a Organizar um Show" e realizei o mesmo no Grupo Nós do Morro.  




Em 2010 o curso foi ministrado como curso de extensão universitária em parceria com o curso de Graduação em Gestão Cultural da Universidade do Vale do Rio dos Sinos no Rio Grande do Sul.


- ajude a dar visibilidade aos problemas (exemplo: em 2010 aceitei participar da reportagem

(clique para aumentar e ler esta reportagem) 

reportagem "O que faz um show dar certo ou errado", realizada pelo jornalista Fausto Coimbra, assunto que foi capa do Caderno Dois do Jornal "Tribuna de Minas", de Juiz de Fora, Minas Gerais, sobre o cancelamento de um grande show na cidade).

- abra as portas para quem está começando (exemplo: trabalho com a Ahnis Fraga, uma nova produtora que foi minha aluna e que está fazendo um trabalho muito cuidadoso com a artista Mariane Guerra 



faça intercâmbios com organizações, universidades, empresas e profissionais de outros países




(exemplo: o livro "Aprenda a Organizar um Show" já deu origem a ações formativas em Angola, no continente africanoSei que o meu blog é lido também na América Latina, Estados Unidos e Europa. Se você é de um destes países, entre em contato e proponha uma ação em conjunto alebarreto@gmail.com).


Tudo isso foi feito sem editais e sem projeto aprovado em leis de incentivo. Talento? Pode ser. Mas acho que a maioria das coisas aconteceram porque me propus a aprender a fazer, tenho amor pelo meu trabalho e sinto prazer de fazer o que eu faço.

E aí, tá esperando o que? Vamos começar a fazer?


[Multipliquem em suas redes sociais, blogs, sites e mailings. Este blog recebeu até agora 184.581 visitas e 394.392 visualizações]


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Alê Barreto é formado em Administração com Ênfase em Marketing pela Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Suas competências profissionais vem sendo construídas através de sua experiência de vida com artistas independentes, shows nacionais (Acústico MTV Bandas Gaúchas), shows internacionais (Avril Lavigne, Steel Pulse), festivais (Claro que é Rock, "IBest Rock", Live n´ Louder), grupos culturais (Nós do Morro), espetáculos de teatro (Os Dois Cavalheiros de VeronaMachado a 3x4 e Missa dos Quilombos), projetos sociais (Sistematização de Experiências de prevenção à violência contra jovens de espaços popularesRebelião CulturalNós do Morro 20 Anos), redes (Rede Acreana de CulturaRedes e Agentes Culturais das Favelas Cariocas), atividades formativas (Aprenda a Organizar um ShowAprenda a Produzir um ArtistaPresença Digital Saudável), espaços de discussão e reflexão (Observatório Criativo), OSCIP (Observatório de Favelas) e gestão de carreiras artísticas (foi empresário da banda banda Pata de Elefante em 2007 e um dos produtores executivos do disco "Um olho no fósforo, outro na fagulha", um dos melhores discos de 2008, segundo a revista Rolling Stone Brasil).

Escreve com frequência no blog Produtor Cultural Independente, canal de disseminação de informações (saiba mais), é autor do livro "Aprenda a Organizar um Show", colunista da revista Fazer e Vender Cultura e possui diversos textos recomendados na página de cultura e entretenimento do SEBRAE e em trabalhos de graduação e pós-graduação.

Desde de 2010 é aluno do Programa de Estudos Culturais e Sociais da Universidade Cândido Mendes, onde cursa a pós-graduação MBA em Gestão Cultural.

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Alê Barreto é cliente do Itaú.

2 comentários:

Gerda Arianna disse...

Muito bom ter tido você aqui em Goiânia, palestrando pra gente! Esperamos revê-lo em breve!! Abçs

Alexandre Barreto disse...

Adorei estar aí, querida!
Espero reencontrá-los em breve.

Um beijo!

Alê Barreto