domingo, junho 12, 2011
A liberdade de fazer exercícios criativos sem obrigação de ter uma proposta
Por Alê Barreto*
alebarreto@gmail.com
Hoje assisti a entrevista que o diretor Hector Babenco concedeu ao programa Almanaque da Globo News. Tentei procurar o conteúdo livre no site do programa, mas ainda não está disponível. Quando estiver, com certeza irei colocar o link aqui no blog.
Geralmente as entrevistas com intelectuais do mercado de arte, comunicação, cultura e entretenimento são pautadas no sucesso de suas produções, o qual muitas vezes é percebido somente do ponto de vista da quantidade de pessoas que assistiu o filme, a peça, etc. Neste programa, o enfoque foi mais inteligente.
Durante a entrevista, Hector Babenco fala sobre o espetáculo "Hell", sua terceira produção de teatro, e sobre aspectos muito interessantes de seu trabalho como cineasta.
Na descrição de um trailer do espetáculo que está no youtube, há uma transcrição de uma fala deste diretor:
"Penso que a transposição desde texto para dramaturgia de dois atores possa de alguma forma flagrar um instante de vida onde a vida real parece impossível. Gostaria de entregar no palco a sensação do fracasso do amor, entre pessoas que tem tudo para serem felizes e que são impedidas pelos vícios ou por um comportamento doentio delas mesma".
O pensamento citado por Babenco poderia estar sendo interpretado como uma "missão" do espetáculo. Mas não é. Babenco explicou durante a entrevista que não há uma proposta, pois a peça Hell é um exercício intelectual. Esta afirmação, na minha opinião, é muito importante. Há uma certa noção difundida no meio do teatro de que um espetáculo tem que ter uma proposta, caso contrário seria mero entretenimento. Eu não concordo com esta noção. Ao "não ter proposta" Babenco estimula a liberdade necessária para a arte. O poeta Manoel de Barros afirmou também que sua poesia não serve para nada. Muitos outros criadores também pensam assim. Existe a possibilidade de exercermos a nossa liberdade criativa.
Trecho do espetáculo "Hell", uma adaptação para teatro do livro de Lolita Pillè, feita por Hector Babenco e Marco Antonio Braz
Babenco fala também de relações com artistas de seus filmes, das interferências que ocorrem na condução de um processo criativo e das características de se dirigir um filme e uma peça de teatro.
Abre parênteses para uma curiosidade sobre a importância do trabalho deste diretor. Babenco introduziu no Brasil a função de "preparador de elenco" em 1981, durante a produção do filme "Pixote: A Lei do Mais Fraco”. Fátima Toledo foi a primeira preparadora de elenco do cinema brasileiro. Fecha parênteses.
A entrevista de Babenco para o Almanaque Globo News é uma verdadeira aula de administração, produção e gestão cultural. Me despertou a curiosidade por conhecer mais o pensamento deste diretor, assistir o espetáculo e trabalhar estas visões em minhas consultorias e cursos.
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* Alê Barreto é um administrador e produtor cultural independente. Trabalha com foco na organização e qualificação dos profissionais de arte, comunicação, cultura e entretenimento. É autor do livro Aprenda a Organizar um Show, primeira publicação livre e gratuita no Brasil sobre a tecnologia de produção de shows, escreve para o site Overmundo e para a revista Fazer e Vender Cultura.
Ministra cursos, oficinas, workshops e palestras. Já atuou em capacitação de grupos culturais em parceria com o SEBRAE AC. Presta consultoria e assessoria para artistas, empresas e produtores.
Contato: (21) 7627-0690 Rio de Janeiro - RJ - Brasil
Alê Barreto é cliente do Itaú.
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